Com criatividade, iniciativas nos bairros da capital tentam convencer sobre a importância do isolamento físico e outras medidas de proteção.
Com uma caixa de som na traseira da moto, o rapper Edson Luís da Silva, 38, percorre Paraisópolis fazendo rimas improvisadas sobre a importância do isolamento social na segunda maior favela de São Paulo, na zona sul da capital.
Xô coronavírus, se liga na prevenção.
Você dona Maria que é maior de 60
Fica em casa, não arrisque, ir pra rua não compensa
A favela é apertadinha, tá ligada é muita gente
Então vê se fica em casa pro vírus não ir pra frente
Edson é um dos moradores das periferias de São Paulo que têm se movimentado para tentar conscientizar sobre a gravidade da Covid-19, em meio ao aumento no número de casos na cidade e a redução no número de pessoas que têm ficado em casa para se proteger da doença.
“Você ainda vê famílias inteiras na rua, mas acho que temos que fazer algo para conscientizar. Acredito muito na música, é o que faço: entregar uma mensagem positiva em forma de rap”, ressalta o rapper que batizou a ação de Freestyle Delivery.
A ideia surgiu antes mesmo da doença, quando o estúdio onde Silva ensaiava com o grupo de rap, Família Velha Escola passou por uma reforma.
“Tinha uma caixa autônoma, então decidi colocar na traseira da moto, encontrei alguns amigos na rua que também já mandavam rimas e frequentavam os ensaios. Aí começamos a fazer alguns improvisos e isso virou o freestyle”, relembra.
Quando as recomendações de isolamento social começaram a se intensificar na cidade, eles decidiram adaptar a ideia focando na conscientização. “Depois de alguns dias, pensei em pegar a moto e mandar umas letras sobre prevenção ao coronavírus, achei que seria útil para a comunidade. Botei a caixa de som e começaram a sair os alertas em forma de improviso”.
Atualmente, o Freestyle Delivery não tem uma recorrência fixa, mas o músico conta que o refrão “Xô Coronavírus” que acompanha os versos improvisados está fazendo sucesso na vizinhança. “A música dialoga diretamente com a pessoa, com o sentimento dela. Todo mundo aqui conhece os músicos, então quando a gente anda na rua e as pessoas nos vêem, erguem o braço e já começam a cantar”.
Crédito: Wagner Alves/DivulgaçãoNa Brasilândia, moradores usam carros de som para informar sobre situação no bairro
Na Brasilândia, na zona norte da cidade, a ideia foi colocar pequenos caminhões de som nas ruas para alertar os moradores sobre os perigos da doença.
Nos três veículos, a mensagem era a mesma: “Estamos passando na sua rua pra dizer que o coronavírus já matou milhares de pessoas”, dizia um trecho. “Em São Paulo, a Brasilândia é o local que mais morreu gente. Não são só idosos que estão morrendo”, continuava.
A iniciativa foi da Rede Brasilândia Solidária, formada com mais de 200 voluntários de diversas áreas, como saúde, assistência social, segurança pública, cultura e educação. O grupo nasceu na segunda semana de março, encabeçada por lideranças locais.
Para Fábio Ivo, 49, responsável pela Rede, a ideia foi uma das alternativas para oferecer informação de forma acessível à população. “Estamos fazendo o que é possível para salvar vidas. Temos que contribuir com informação, mas também lutar pela dignidade do alimento, que falta para muitas famílias”, comenta.
Crédito: DivulgaçãoProfissionais da saúde passam com carro de som para falar sobre isolamento físico
Em Heliópolis, oficialmente, a maior favela do estado de São Paulo, a UNAS (União de Núcleos Associações dos Moradores) e a UBS (Unidade Básica de Saúde) Sacomã também se uniram para informar a população sobre a Covid-19.
Com panfletos, agentes de saúde e carros de som, as organizações “saíram pelas ruas de Heliópolis informando a população da necessidade de se prevenir e na medida do possível, ficar em casa”, comenta Douglas Cavalcante, 27, membro da Unas.
Para ele, a circulação das pessoas foi o motivo. Nas ruas da favela, a taxa de isolamento diminuiu nas últimas semanas, em sua percepção. “O número de pessoas circulando pelas ruas da comunidade têm aumentado. A situação é séria, não é uma gripezinha”.
Além da iniciativa física, um vídeo produzido na própria comunidade foi outra ação pensada para conscientizar os moradores. “A galera está na rua e os casos suspeitos estão aumentando”, completa Douglas.
Fonte: Agência Mural