Rádio Cantareira Notícias Na pandemia, também é preciso entender os anseios dos trabalhadores

Na pandemia, também é preciso entender os anseios dos trabalhadores



por Daniel Gomes

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 20 de agosto indicam que a pandemia do novo coronavírus fez o número de desempregados no Brasil crescer 20,9% entre maio e junho.

Ao todo, o país perdeu 1,9 milhões de trabalhadores informais em três meses. Some-se a isso, o fato de 3,2 milhões de trabalhadores afastados terem ficado sem remuneração em julho. Não por acaso, 4 milhões de brasileiros recorreram a empréstimos financeiros durante a pandemia.

Ainda segundo o IBGE, o Brasil encerrou o mês de julho com 12,2 milhões de desempregados, cerca de 2,1 milhões a mais que o registrado em maio.

Na avaliação de Paulo Pedrini, coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo, as políticas públicas neste momento devem ser focadas na geração de postos de trabalho e medidas que combatam a precarização das relações trabalhistas. “Pela primeira vez em nossa história, pelos dados oficiais, o número de desocupados é maior do que o de ocupados”, lamenta.

Marcos Chehab Maleson, diretor-executivo do Movimento dos Advogados Trabalhistas Independentes (MATI), ressalta que a quarentena adotada em razão da pandemia agravou ainda mais as desigualdades existentes no mundo do trabalho e provocou uma crise sistêmica no Direito do Trabalho.

“Infelizmente, a politica de emprego e trabalho do Governo Bolsonaro não privilegia o trabalhador e a manutenção do poder de compra do salário, o que, com a quarentena, agravou ainda mais o grave problema atualmente existente nas relações de trabalho que, de forma clara e direta, mantém esforços na salvação de empresas e empresários, deixando de lado a força de trabalho e achatando ainda mais salários e direitos tão duramente conquistados ao longo das últimas décadas”, observa Maleson.

Manutenção da dignidade e do emprego

Pedrini observa, ainda, que neste momento deve ser exigido que os empregadores cumpram os protocolos de garantia de saúde e segurança dos trabalhadores e que o poder público adote medidas que garantam o bem comum.

“Isso significa saneamento básico, isolamento social, manutenção da suspensão das aulas, renda mínima para todos não terem que sair de casa, despejo zero, veto a corte de energia e água durante a pandemia, em resumo, o que for necessário para a preservação da vida, em especial a dos mais vulneráveis, dado que a pandemia atinge e é mais letal, sobretudo entre os mais pobres, que em sua grande maioria são negros e moram nas periferias. O índice de contágio na periferia é quatro vezes maior do que em regiões de maior poder aquisitivo”, ressaltou o coordenador da Pastoral Operária.

Maleson enfatiza que os trabalhadores precisam ser ouvidos nas decisões relativas ao mundo do trabalho:  “O capital não pode fazer com que o trabalho seja reduzido a mero coadjuvante nessa crise mundial. É preciso escutar e entender melhor os anseios da classe trabalhadora por melhores salários, condições dignas e justiça nas relações laborais”.

Microempreendedores

Entre março e junho, na cidade de São Paulo, aproximadamente 20 mil lojas encerram suas atividades em razão da paralisação provocada pela pandemia de COVID-19. Isso levou a consequente perda de postos de trabalho. Na tentativa de sobreviver, muitas pessoas iniciaram pequenos empreendimentos, como a venda de máscaras e de doces, por exemplo.

De acordo com Guilherme Campos, diretor-administrativo financeiro do Sebrae-SP, a missão social das empresas continua a mesma: gerar empregos, inovação e desenvolvimento nas regiões e segmentos onde atuam, e agora, também, incluindo as preocupações com o bem-estar de funcionários e clientes.

“O empresário tem agora a missão de rever a estrutura de seu negócio, avaliar as adaptações necessárias para manter seu funcionamento, preparar sua equipe para os novos modelos de trabalho/atendimento, oferecer segurança no ambiente de trabalho minimizando o risco de contaminação para proteger o trabalhador e suas famílias e tranquilizar os clientes para que possam voltar a consumir”, avalia.

*Os entrevistados citados nesta reportagem responderam ao jornalista por e-mail

** Crédito da foto: CUT Brasil

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