A desigualdade de gênero ainda é um dos maiores desafios no mercado de trabalho para as mulheres, e a questão não se restringe somente às empresas privadas. Servidoras públicas brasileiras também sofrem com essa disparidade.
Segundo levantamento da República.org, baseado com dados de 2020 (base mais recente), as mulheres são a maioria dos vínculos em quase todas as faixas salariais, exceto na faixa dos salários mais alto, acima de cinco salários mínimos. Esse padrão se repete para quase todos os estados, exceto para Amapá, Mato Grosso do Sul, Pará e Roraima.
Ainda de acordo com o Atlas do Estado brasileiro, produzido pelo Ipea, embora as mulheres sejam quase 59% dos servidores públicos, elas são apenas 18,6% nos cargos de liderança.
Para a economista Mariel Angeli Lopes, supervisora do escritório do Dieese no Distrito Federal, os números dos relatórios não surpreendem as brasileiras.
“É bem interessante porque mesmo com as mulheres ocupando quase 60% dos cargos públicos, o esperado era que elas exercessem também vagas de liderança. E esse estudo do Ipea, por exemplo, mostra que isso não acontece. Ou seja, a gente observa que no setor público, também como no privado, a gente tem barreiras para a ascensão de mulheres nos cargos mais altos”, disse.
Mariel Angeli Lopes chama a atenção também para a diferença salarial entre homens e mulheres, mesmo nos casos em que elas possuem mais qualificação profissional do que eles.
“ A gente observa que as mulheres no setor público recebem, em média, 25% a menos do que os homens, mesmo as mulheres tendo mais qualificação do que os homens. E no setor público também, não temos estrutura para atender as necessidades das mulheres. Então, acabamos refletindo os problemas que temos no setor privado com a falta rede de apoio para que as mulheres possam se dedicar, por exemplo, a essas vagas de lideranças com viagens e horários estendidos. Esses mecanismos não existem no setor público”, ressaltou a economista.
O levantamento da República.org revela ainda os abismos que existem entre os estados brasileiros e os diferentes níveis de governo (municipal, estadual e federal). No nível municipal, por exemplo, as mulheres negras são maioria no serviço público (34,7% dos vínculos), seguidas por mulheres brancas (29,5%) e homens negros (21,4%). No entanto, ao considerar os cargos de direção e gerência no nível municipal, apenas 22,9% são gestoras negras.
Mulheres também são maioria no serviço público estadual e apenas no nível federal homens brancos são maioria, com presença de 32,6%. No nível federal, a proporção de mulheres se encurta ainda mais em cargos de liderança, com apenas 11,8% de gestoras negras.
A Central de Notícias da Rádio CANTAREIRA é uma iniciativa do Projeto Desconstruindo Amélias. Este projeto foi realizado com o apoio da 6ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária Para a Cidade de São Paulo.
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