Wil Delarte fala sobre suas produções culturais no ‘Revista da Semana’

Cantor, compositor, editor e produtor cultural. Wil Delarte é a personificação de um artista independente múltiplo. Atualmente, ele mora na cidade de Cotia (SP), mas entre 2010 e 2019, vivenciou a realidade da Brasilândia.

Em julho deste ano, ele lançou o LP “Um lugar para mim”, com quatro canções autorais. Para falar sobre este trabalho e outras iniciativas que realiza no universo on-line e na realidade presencial, ele conversou com Beto Souza na edição do programa ‘Revista da Semana’, de 26 de julho, na rádio comunitária Cantareira FM.

Wil Delarte (@wdelarte), aliás, já realizou projetos em parceria com a rádio: em 2022, a Cantareira FM veiculou os podcasts Universo para Elos, um dos produtos do canal Universos para Ellos, que ele mantém no YouTube (universosparaellos).

DE PODCASTS A SARAUS

Imagens: Reprodução do programa

A partir do canal, Wil e os amigos Edgar Ferreira e Neto Rossi criaram o Sarau para Elos, que acontece a cada dois meses na Biblioteca Municipal Manuel Batista Cepelos, no centro de Cotia.

“A ideia tanto do sarau quanto do canal é de unir forças, artistas e linguagens. A gente toca este sarau em uma biblioteca aqui de Cotia. Este é um projeto do qual me orgulho muito, porque ele só vem crescendo, é bem gostoso. Aqui é um sarau com cara de interior. A gente sempre abre com um coral e depois vem muita dança, música e um pouco de poesia”, explicou Wil, ao falar do sarau, cujos detalhes podem ser vistos no Instagram (@sarauparaelos).

Por meio do Sarau, Wil e outros agentes culturais desenvolveram o projeto “Biblioteca Cultura Viva”, que culminou na reforma e na aquisição de equipamentos para toda a biblioteca de Cotia, além de uma extensa programação de shows, oficinas e cursos no local. A iniciativa foi viabilizada por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC).

DESTAQUES DO NOVO EP

Com 9 anos de idade, Wil Delarte escreveu sua primeira novela. Na adolescência e juventude, começou a tocar. Em 2011, lançou seu primeiro livro e, depois, com o passar dos anos, passou a compor músicas para duas bandas gaúchas: Os Equilibristas e Kid Cegonha.

Wil Delarte confidenciou que jamais imaginava lançaria um EP. Ele destacou que isso só foi possível por ter seu projeto contemplado na Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).

“O financiamento público é essencial, especialmente para quem deseja produzir uma arte que seja livre e que não vá ao encontro das tendências de mercado, dos algoritmos. Eu acredito na arte que venha da necessidade de expressão, de inspiração e de verdade do artista. Hoje em dia, basicamente, é o financiamento público que pode lhe proporcionar isso”, destacou.

O EP “Um lugar para mim” é composto por quatro canções feitas por Wil Delarte em parceria com outros artistas, em um projeto que busca mostrar a pluralidade de possibilidades poéticas e de gêneros musicais.

O nome do EP também é o de uma das canções, “mas também significa um lugar para mim enquanto compositor, uma pergunta indireta: ‘qual o lugar do compositor nas canções?’, pois, às vezes, nem em nota de rodapé você sabe quem foi que compôs”, comentou o idealizador. A canção apresenta uma batida de soul music, com elementos do rock. O enredo fala sobre a falta de vontade para se viver quando não se tem algo ou o outro como motivação.

“O tempo vai passar, tão perto é o fim, vê, não há mais um lugar para mim, sem você sou sem sim”, canta-se em um dos versos.

Outra música do EP chama-se “Quando tudo se mostrar”, produzida durante a pandemia em 2020/2021. Segundo Wil, a música tem muitas chaves de interpretação. O verso “quando isso terminar não faltará nenhum fim”, por exemplo, poderia ser interpretado como o desejado fim da pandemia, mas pode ter outras interpretações, por vertentes filosóficas e espirituais. A acústica, iniciada com sons de pássaros na natureza, busca mexer com os sentimentos.

Já a música Inço traz a sonoridade blues, inspirada no sucesso “Blues da Piedade”, de Cazuza, e busca alertar para os riscos da crescente mundial do Fascismo. “Eu falo basicamente da estrutura do Fascismo, essa coisa que sempre volta na sociedade. É uma letra muito nervosa, apesar de ser um blues, que busca denunciar mesmo essa gente que não quer dançar, nem cantar, não quer arte na vida e quer levar todo mundo para trás, para uma época em que só exista um jeito de viver e de pensar. A letra é contra isso, contra toda a estrutura do Fascismo”, disse. “Se não cortarmos o Fascismo pela raiz, vamos reviver o Fascismo daqui 30, 40 anos, de novo. Por isso é preciso estarmos de olhos bem abertos e formando as novas gerações”.

“Uma gente que não tem tédio, que luta pelo privilégio de ter privilégios. É tanta gente de bem, é uma gentalha, que não vale a alma que tem, armazém de canalha”, canta-se em um dos versos.

A quarta canção do EP é “Peleja”, que foi musicada a partir de um poema de autoria Wil Delarte, inspirada na música “A peleja do Diabo com o Dono do Céu”, do Zé Ramalho. Essa música de Wil fala sobre a disputa dentro de si, de quando Deus fala com ele e de quando quem fala é o diabo.

“Deus pra sair pula a janela; o diabo para entrar, basta uma fresta. Deus só entra com as portas abertas; o diabo não sai, não sai, arromba a cancela” […] “Dentro de ti o diabo pulsa, fora de ti é um Deus nos acuda”, canta-se na música.

‘SOU UM HOMEM INQUIETO’

Ao comentar sobre o seu livro escrito em 2011, “Sentimento do fim do mundo”, Wil lembrou que a obra foi lançada na época em que ele estava estudando Letras na USP, e remete a um diálogo inventivo dele com Carlos Drummond de Andrade.

“O livro fala do fim do mundo tal qual antes da pandemia, esse mundo mais orgânico. A cada dia que passa, este livro se torna cada vez mais atual. Há, por exemplo, um poema que fala ‘Homem digital 1.0’, e olha que em 2011 nem existia Inteligência Artificial. Então, é um fim do mundo mais amplo, mais simbólico, e do mundo físico. Também trata de uma grande depressão existencial”, explicou.

Wil Delarte comentou que suas referências literárias são Mário Quintana, Manuel Bandeira, o próprio Drummond, além dos compositores de sarau e de poesias periféricas. Na música, as referências vão desde gigantes da MPB, como Gilberto Gil e Caetano Veloso; passando por grandes nomes do rock, do blues, música nordestina, samba e do hip-hop, em especial os Racionais MC’s.

“Eu sou um homem muito inquieto. Não gosto de estar fixo a um gênero ou a um tema. Se eu vejo que vou repetir um tema, tento buscar por outro”, destacou Wil.

Abaixo assista a íntegra do ‘Revista da Semana’ de 26 de julho. O programa é sempre apresentado aos sábados, das 10h às 12h, com reprise aos domingos, das 14h às 16h.