Samba N’Intimidade participa do ‘Revista da Semana’ e recorda a Vó Tutu

Na Rua Virajuba, na Brasilândia, que sempre foi celeiro do samba – e foi lá, por exemplo, que surgiu o Bloco do Arrasta – um grupo de samba começou em 2010, reunindo pessoas apaixonadas por esta expressão da arte popular brasileira.
“O Samba N’Intimidade foi criado pra gente cantar e tocar o que não conseguia executar nos shows, pois os integrantes trabalhavam como músicos para outros artistas”, recordou Denis Ambrósio. Ele, Marcelo Lima e Cainã participaram, em 2 de agosto, do programa ‘Revista da Semana’, apresentado por Beto Souza na rádio comunitária Cantareira FM.
Com o tempo, o Samba N’Intimidade foi crescendo, sendo convidado cada vez mais para apresentações, e se consolidou como referência na região, especialmente pelo samba no segundo domingo de cada mês na Rua Virajuba. No entanto, a chegada da pandemia de COVID-19 forçou a interrupção do grupo, que só retornaria em 2023, após muita insistência de Otavio, um amigo comum dos cantores.
ENTRE MUITAS CANÇÕES

Durante o programa, os integrantes do Samba N’Intimidade tocaram algumas das canções que já são conhecidas de quem vai ao samba nas “quebradas” da Brasilândia, entre elas “Reduto de Bamba”, “Pura Ilusão” e uma que o grupo ganhou de presente como homenagem pelo trabalho que faz.
“Samba N’Intimidade é o samba que o povo cantou/ Samba que fala a verdade/ Samba que é feito de amor/ Toca no fundo do peito/ Pega no fundo da alma/ Que traz a alegria e a dor/ O samba é o melhor remédio e não tem contraindicação/ Defendendo a bandeira do samba/ O cavaco foi a solução/ Aprendi desde cedo o caminho/ E segui o meu coração…”.
Denis recordou que, aos poucos, as apresentações aos segundos domingos do mês estão retornando. Uma delas ocorreu em 10 de agosto na quadra ao lado da EMEF André Rodrigues de Alckmin (Rua Marcelino José de Freitas, 619, na Vila Terezinha). Este deve ser o endereço permanente das próximos encontros mensais.
Ele também ressaltou que o espaço é eclético: “No projeto cultural e social Samba N’Intimidade, embora tenha sido fundado por sambistas, o nosso palco é aberto. Lá já se apresentaram cantores Gospel, Hip-Hop etc. E a coisa gostosa é que nosso público abraça todo mundo”.
O PÃO DA VÓ TUTU

Ao vivo no estúdio, os músicos se emocionaram ao perceber que uma de suas canções, feita há alguns, fala de um problema social e que levaria a uma ação: a música “Correntes” em um de seus trechos fala da “criança sem pão pra comer, pobre mãe a chorar, pavoroso futuro ela vê, segurança, saúde, não dá”.
Denis é filho da Vó Tutu, e Marcelo sobrinho dela. A senhora da Brasilândia, trabalhadora do ramo alimentício e que amava fazer festa, no meio da pandemia teve a iniciativa de produzir pão para alimentar famílias carentes, justamente ao ver o desespero de pais que não tinham pães para dar aos filhos.
O gesto solidário, que começou singelo, ganhou destaque quando um de seus netos gravou um simples vídeo em que Vó Tutu pedia doações para a iniciativa. Após a história ser contada em um programa de tevê de grande audiência nacional, artistas e famosas personalidades passaram a colaborar com o projeto, que cresceu a ponto de se transformar nas Ações Sociais da Vovó Tutu, que permanece ainda hoje, mesmo após o falecimento da Vovó, em junho passado, aos 73 anos de idade.

“A Vó Tutu fez trabalho social a vida toda, mas ganhou uma dimensão astronômica na pandemia. Nós tínhamos um restaurante, uma hamburgueria, mas na pandemia não dava para trabalhar. Ela ficou sem atividade e em uma das conversas com Deus, ouviu que tinha de fazer pão para distribuir. Perdemos a Vó Tutu neste ano. Foi uma pancada, mas o trabalho não parou. Ela deixou um trabalho lindo, maravilhoso que a família, os amigos, os colaboradores, patrocinadores abraçaram e falaram ‘não vamos parar’”, recordou Denis.
Atualmente, ele e a irmã, Vânia Alonso, coordenam a iniciativa, com o apoio do William, Márcio e Tainá.
De segunda a sexta-feira, são produzidos entre 2 mil e 3 mil pães, mas há dias em que a produção ultrapassa os 4 mil. “Não atendemos somente quem vai na nossa porta. Nós mandamos pães também para o Pãozinho Solidário que faz o ações na Praça da Sé, mandamos para as escolinhas de futebol e de capoeira, para núcleos assistenciais e outras ONGS, conforme entram em contato com a gente”, contou Denis, destacando que este pão faz muita diferença para as famílias que vivem a realidade de desemprego e mesmo para aquelas que tem renda fixa, já que em um casa com cinco pessoas, por exemplo, o gasto mensal com pães pode chegar a R$ 200.
Ao longo do programa, Beto Souza reprisou um trecho da entrevista que Vó Tutu deu à rádio Cantareira, em 8 de setembro de 2021, no meio da pandemia, na qual falou do projeto de doações de pães. CLIQUE E REVEJA A ENTREVISTA
Denis agradeceu a todos as pessoas que colaboram com a iniciativa, bem como às famílias da Brasilândia que no passado e atualmente doam pacotes de farinha de trigo e fubá, por exemplos.
Denis, porém, lamentou que pessoas negras que já alcançaram grande notoriedade social nunca colaboraram com a iniciativa. “Os pretos de notoriedade que estão lá em cima não olham aqui para baixo”, lamentou.
Para conhecer mais sobre os trabalhos do Samba N’Intimidade acesse o Instagram @sambanaintimidade2025. Abaixo, assista a íntegra da entrevista do grupo na edição de 2 de agosto do ‘Revista da Semana’.