‘Revista da Semana’ destaca as ações de transformação cidadã do ITC na Brasilândia

O ano era 2020 e a pandemia de COVID-19 já começava a afetar as pessoas das áreas mais pobres da cidade de São Paulo. Faltava emprego, a comida era escassa e para se alimentar muitos dependiam da solidariedade de outras pessoas.
Cláudio Kafé, liderança comunitária e fundador da Associação dos Moradores do Alto da Vila Brasilândia (AMAVB), não estava indiferente a esta realidade e se desdobrava para ajudar a quem podia. Um dia, enquanto fazia a distribuição de marmitas, um helicóptero de tevê registrou a ação. Desde então, sua causa tornou-se mais conhecida e mais instituições e pessoas passaram a apoiá-lo.
“O dia dessa entrega de marmita foi um momento bem triste. A gente estava entregando marmita e eu estava com alimentos no carro. E a cena que ficou gravada na minha mente foi do momento em que tirei um miojo debaixo do banco, estiquei o braço, e duas pessoas pegaram e ficaram disputando para ver quem ia ficar com aquele pacote de miojo. Quando cheguei em casa, chorei muito, pois senti que a coisa seria feia”, recordou Cláudio Kafé em entrevista ao programa Revista da Semana na rádio comunitária Cantareira FM, em 22 de março.
Ao longo da pandemia, a AMAVB também se tornou um polo que recebia alimentos e marmitas prontas, e os distribuía em 15 locais do Distrito da Brasilândia, previamente mapeados por lideranças dos bairros.

“Tínhamos um ‘esquadrão de guerra’. Eram quatro carros, duas motos, duas equipes na cozinha produzindo marmitas. Também recebíamos marmitas de restaurantes e do Sesi. Onde me ligavam pra buscar marmita, eu ia ou pedia a um amigo. Na época, fiquei conhecido como o ‘Tio da Marmita’”, recordou Kafé, em entrevista aos comunicadores Beto Souza, Rubens Andrade e Anderson Braz.
Foi um trabalho de longos meses, ininterrupto, que não parou nem sequer no dia em que a mãe de Cláudio Kafé faleceu em decorrência da COVID-19. “A pandemia veio para mostrar quem trabalha sério e quem faz ação social somente por negócio. E marmita pra gente nunca foi negócio”, enfatizou o líder social.

DA AJUDA PONTUAL À FORMAÇÃO DE PROTAGONISTAS
Passado o momento mais crítico da pandemia, era a hora de ajudar quem sobreviveu ao caos a reescrever a própria história. E foi assim que a AMAVB tornou-se o Instituto Transformação Cidadã (ITC). “A nossa proposta de trabalho, hoje, é provocar a transformação cidadã na Brasilândia”, ressaltou Kafé.
Atualmente, o ITC produz e distribui marmitas somente aos domingos – dia em que serviços de refeições a preços acessíveis, com o ‘Bom Prato’, estão de portas fechadas –, e continua distribuindo cestas básicas, na medida em que as recebe da Prefeitura por meio do programa Cidade Solidária, beneficiando cerca de 500 famílias mensalmente. Também entrega leite em parceria com o governo do estado de São Paulo, no chamado programa Viva Leite.
Formar protagonistas, porém, é o grande foco dos trabalhos atuais. E são muitas as ações, voltadas a pessoas de diferentes faixas etárias, como cursos de qualificação profissional, empreendedorismo, idiomas (inglês e espanhol), oficina de teatro, além dos mutirões de emprego, nos quais empresas de recrutamento de pessoas fazem a ponte entre as empresas que têm vagas disponíveis e quem está a procura de um trabalho.

“Nós decidimos mudar a chave do nosso atendimento, deixando um pouquinho de lado o assistencialismo, mas sem abandoná-lo, pois é importante alimentar a pessoa que esteja faminta, mas o que queremos é proporcionar a transformação a partir da educação”, ressaltou Kafé.
Parte desta virada de foco está na criação de um polo cultural no ITC, com uma sala multiuso, atendimento jurídico e o espaço de saúde e bem-estar com alternativas de tratamento para a comunidade local.
“A ideia de criação do ITC também foi pra gente poder levar para fora da Brasilândia um pouquinho de experiência que temos de atendimento na comunidade. Sabemos que a médio e a longo prazo, poderemos levar este equipamento para outros lugares, instalar polos em outros locais. Temos a ideia de expandir esta metodologia de trabalho”, explicou Kafé.
GENTE QUE SE DOA
Nos estúdios da rádio Cantareira FM, Cláudio Kafé esteve na companhia de dois voluntários do ITC: Cristiane Shakeel e Shola Adewale. Ambos ministram aulas de inglês aos domingos para crianças e adolescentes atendidas pelo instituto.
Cris, como também é conhecida, é brasileira e há quatro anos converteu-se ao Islamismo. Graduada em Letras, ela decidiu se voluntariar para dar aulas no ITC, com a meta de ver mais pessoas da periferia falando inglês fluentemente.

“As crianças e jovens têm muita esperança. Eles chegam muito animados para as aulas, não faltam e ficam muito felizes em aprender uma nova língua. São bem curiosos, inteligentes, aprendem muito rápido”, assegurou Cristiane, que em breve também ministrará aulas de espanhol no ITC. “Quero dizer às pessoas da periferia que continuem acreditando que são capazes e que saibam que têm um grande parceiro aqui, que é o Cláudio Kafé”, complementou.
Shola é nigeriano e está no Brasil há dez anos, trabalhando como professor de inglês particular. “Para mim é uma alegria dar aula e receber o sorriso das crianças, além de poder mostrar a elas a cultura da África”, comentou.
Além da boa vontade dos voluntários, o ITC se mantém com as doações financeiras de pessoas individualmente ou em conjunto, como uma associação de servidores públicos do município de São Paulo que repassa mensalmente R$ 2 mil ao instituto, valor suficiente apenas para custear as contas de água, energia elétrica e o pacote de internet. Já o dinheiro que a instituição recebe pelos projetos que realiza com o poder público é utilizado para a logística da própria ação, como, por exemplo, a compra das embalagens das marmitas que são distribuídas.
Portanto, o ITC, este polo de transformação social da Brasilândia, depende de doações para se manter. Interessados em colaborar podem se informar pelos seguintes canais:
Site: https://www.ongitc.org E-mail: contatositc@gmail.com Facebook: ONGITCOFICIAL Instagram: ONGITCOFICIAL WhatsApp (11) 95330-3566 |
A sede do instituto funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, na Rua Ignácio Leopoldo de Camargo, 47, Vila Teresinha.
Abaixo, assista a íntegra da edição de 22 de março do programa Revista da Semana, que vai ao ar todo o sábado, das 10h às 12h, com reprise aos domingos, das 14h às 16h.