‘Revista da Semana’ abre os microfones para os compositores do ‘Samba do Congo’

“Chega pra cantar o nosso samba, é samba de roda de bamba, vem gente de todo o lugar”. A música “Nossa Quebrada”, que exalta os moradores e bairros da periferia da zona Noroeste como a Brasilândia, Morro Grande, Teresinha, Carumbé, Vila Zatt e Elisa Maria, é uma das batucadas mais famosas do Samba do Congo, frente de resistência fundada em abril de 2011 para difundir, valorizar e incentivar a arte por meio da composição musical.

Tudo começou em um bar, na Rua Raulino Galdino da Silva, no Jardim Maristela, com uma roda de samba entre amigos, em meio a cervejinha e o churrasquinho. O roda foi crescendo, migrou para a Casa de Cultura da Brasilândia até que o coletivo conseguisse uma sede própria, na Rua Manoel de Souza Azevedo, 48, no Morro Grande, onde atualmente, às terças-feiras, às 19h30, acontece a roda de compositores, em um grande compartilhar de letras, poesias e pensamentos.

“Desde o começo, a ideia foi a de ter um lugar de fala, de poder compor. Um espaço de composição, é assim que se constitui o Samba do Congo. Começamos no bar e com o tempo, a partir de estudos sobre o samba, mudamos do horizonte de entretenimento para um sentido cultural. Depois, fomos para a casa de cultura, quando realmente mudou a chave, pois a gente passou a ter um endereço cultural e fazer parcerias com os movimentos culturais da região, até irmos para nossa sede própria”, contou Fernando Ripol, em entrevista na edição de 12 de abril do programa “Revista Semana”, na rádio comunitária Cantareira FM, apresentado por Beto Souza e Rubens Andrade.

SUCESSOS DO 1º ALBÚM E DO MAIS RECENTE

Samba do Congo se apresenta na rádio comunitária Cantareira FM

E Fernando Ripol não esteve sozinho nos estúdios da rádio. Outros integrantes do Samba do Congo também lá estiveram para falar de suas composições e histórias no coletivo e cantar ao vivo: Gordo Ferreira, Conceição Batista, Márcio Bonfim, Alexandre Mandinho, professor Délcio, Lu Poesia, Ed Batista e Grabriel Henan.

Mandinho, um dos pioneiros do Samba do Congo, recordou o crescente reconhecimento alcançado pelo Samba do Congo, especialmente após o 1º álbum “Nossa Quebrada”, lançado em 2016, cuja música tema já pode ser vista em um videoclipe, que mostra um dia de roda de samba e os muitos rostos e cenários da periferia.  

“Foi saindo umas músicas lá na rua e hoje o povo canta, viu? Da rua de baixo, da rua de cima, da rua do meio, dos Estados Unidos, hoje todo mundo canta nossas músicas”, brincou Mandinho. “Eu sinto orgulho e vejo que a missão está cumprida. Saímos do nada e aí está. Teve alguns que no começo tiraram sarro, mas hoje aplaudem e falam, ‘pô, mano, vocês merecem’”, complementou.

ASSISTA O VIDEOCLIPE DA MÚSICA ‘NOSSA QUEBRADA’

O segundo álbum “Refração” já está sendo divulgado pelo Samba do Congo e algumas das músicas também foram tocadas ao vivo durante o programa.

“O repertório do ‘Refração’ é bem mais maduro, tecnicamente falando. Trata de sentimentos. Já o ‘Nossa Quebrada’ é uma coisa mais de rua, de falar da quebrada e tal. O ‘Refração’ fala de amor em suas várias possibilidades: pela família, pelo irmão, pela mãe, pelo samba. Representa essa palheta de possibilidades, de amores. E o samba está lá, a nossa batucada sempre, a nossa velha guarda também, a nossa poesia”, destacou Fernando Ripol.

COMPOSIÇÕES, VIDAS E HISTÓRIAS

Um a um, os participantes do programa recordaram seus vínculos com o Samba do Congo e as inspirações para as composições. Gordo Ferreira passou a participar do coletivo de modo permanente em 2013, ajustou uma letra que já tinha escrito antes e a apresentou durante uma das rodas de compositores.

Uma das canções de Gordo Ferreira relata sua história de superação de vícios e o papel dos familiares e amigos para que saísse vitorioso dessa batalha: “Sempre, estou bem com a minha família, hoje escolho minhas companhias, só quem é meu amigo, vai me acompanhar, só quem é meu amigo, vai me acompanhar”, canta-se no refrão.

“O Samba do Congo é uma família que faz parte de mim hoje. Todos nós aqui hoje já estamos imortalizados, pois a nossa obra está gravada”, disse Gordo.

Conceição Batista chegou ao Samba do Congo após ler o anúncio de que havia aulas de música e samba rock no coletivo. Não demorou muito para que das aulas fosse à roda de compositores com o esposo, Ed Batista, e recebessem um pedido pra lá de especial de Luizinho do Pandeiro, ícone do samba paulistano: que fizessem uma canção por ocasião de seus 50 anos de samba.

“Brincando com seu pandeiro, com passos marcados, o nosso garoto de ouro… Cidadão do Samba, Embaixador, Luizinho do Pandeiro, receba os aplausos de todos os sambistas brasileiros”, canta-se na música “Garoto de Ouro”, composta por Conceição e Ed.

Beto Souza e Rubens Andrade com os integrantes do Samba do Congo

Já Lu Poesia sempre escreveu versos, mas eles só saíram de seus arquivos no Samba do Congo. No álbum “Refração”, ela é autora de alguns versos da música “Muito Além”, composta em parceria com o professor Délcio e J Luiz. No meio da canção, Sérgio Vaz declama um poema de autoria de Wagner Souza. O arranjo musical tem menos batucada que a maioria das canções do Samba do Congo, justamente para permitir que quem ouça reflita melhor sobre a mensagem da música acerca do quanto às pessoas têm ficado condicionadas à rotina e precisam disso se libertar. Abaixo, leia um trecho da letra:

Não quero viver só pra pagar.
Não quero existir só pra passar o tempo.
Não cabe existir só de penar,
Se conhecer e desfrutar a vida, da vida.
Deixa, uuu, eu tentar viver um viver de sonhar,
Muito além do sobreviver

Márcio Bonfim, que conhece o Samba do Congo desde a época da batucada no bar, é autor, em parceria com Fernando Ripol, da música “A força do cantar”, que ele cantou pela primeira vez justamente na roda de samba e se emocionou com a vozes que espontaneamente se juntaram à dele na ocasião. Eis a letra:

Cantar é relembrar.
Sonhar é acreditar.
Buscar sempre encontrar
O melhor viver.
Sentir a emoção,
Viver no coração,
Deixar resplandecer,
Com todo prazer.
Traz esperança e fé.
Manda a tristeza embora,
Finda a todo o tormento,
Emoção põe pra fora,
Me faz pensar, que sempre há…
Lá, no coração,
Paz e emoção,
De tanto querer,
Sempre engrandecer,
A força de um cantar
Faz iluminar
A qualquer ser, a qualquer ser

CLICK NA IMAGEM E ASSISTA A APRESENTAÇÃO DESTA CANÇÃO

Professor Délcio chegou ao Samba do Congo em 2018. Na sede do coletivo, ele fazia aulas de violão e cavaquinho e depois começou a frequentar as rodas de samba às terças-feiras. “Participar do Samba do Congo me deu uma identidade diferente, pois hoje eu chego nos lugares e as pessoas já me falam ‘você é do Samba do Congo’. Mudou até a relação que eu tenho com a cidade, com os outros coletivos”, disse o autor da música “Teatro da Vida”, que está no segundo álbum.

E se a passagem do Samba do Congo pela rádio comunitária Cantareira FM começou cantando a “Filosofia de um sambista”, composta por Luz Nascimento (já falecida) e Joel Diamante – “A minha filosofia é cantar, é cantar, cantando eu sei que consigo ser feliz. Cantando eu só tenho alegria, tristeza não tem lugar, a minha filosofia é cantar!” – o término foi ao som de “Refração”, música principal do segundo álbum e que conta toda a magia que a música tem para unir as pessoas e transformar vidas:

Enfim chegou,
Estava com saudade de você,
É todo último sábado do mês
Que a gente se reúne pra cantar, comemorar!
Tem uma luz
Que clareia no céu um novo dia
E outra que transborda poesia
Quem canta com sabor o paladar.
Sempre a brilhar,
Um diamante que sem lapidar
Emana a luz pro morro iluminar,
Inspiração para novas criações,
Sem esquecer
Do povo que faz tudo acontecer
Seja nas glórias ou nos turbilhões,
Cuidam dos nossos como leões.
Então, é só chegar,
Sentir toda a magia
E se apaixonar,
O tom da melodia
Vem saborear,
Bem mais que um simples gesto de estar,
É pertencer.
Bom mesmo é se encontrar,
Deixar a luz divina dar a direção
Não só no verbo a nossa ligação,
Que juntos somos mais

As canções dos álbuns “Nossa Quebrada” e “Refração” estão disponíveis para download nos principais players de streeming de música, como Deezer e Spotify. Todas as informações sobre o Samba do Congo estão disponíveis no Instagram: @sambadocongo.

Abaixo, assista a íntegra da live do Samba do Congo no programa “Revista da Semana”