No Revista da Semana, pedagoga Raquel Queiroz fala sobre a restrição aos celulares nas escolas
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A entrada em vigor da lei 15.100/2025 que restringe o uso de telefones celulares por estudantes da educação básica nas escolas públicas e privadas em todo o Brasil tem levado à adaptação nas rotinas das escolas. A perspectiva são de impactos positivos, mas ainda há algumas resistências à medida.
Este foi o assunto tratado na edição de 15 de fevereiro do programa Revista da Semana, da rádio comunitária Cantareira FM. Os comunicadores Beto Souza e Rubens Andrade entrevistaram a pedagoga Raquel Queiroz, que atua há 8 anos na área da Educação e atualmente é coordenadora pedagógica em uma escola municipal de ensino fundamental na periferia da zona Noroeste da cidade.
A RESISTÊNCIA DOS PAIS
Raquel detalhou que no início do ano letivo, a escola conversou com os pais sobre o quanto é importante para o processo educativo dos estudantes que não haja uso do celular no ambiente escolar e o quanto o dispositivo é desnecessário para a comunicação dos pais com os alunos.
“Muitos pais argumentaram sobre como iriam fazer para falar com os filhos quando precisassem, e nós explicamos que basta entrar em contato com a escola, como sempre foi feito, pois lá estamos para salvaguardar a criança e o adolescente. Assim, esta comunicação entre o estudante a família no período escolar pode existir sempre, mas passando pelas vias institucionais que a escola tem”, pontuou Raquel.
A coordenadora pedagógica comentou ainda que quando havia permissão para o uso do celular, os estudantes costumavam a acionar os pais por menor que fosse a questão a ser tratada. Com a entrada em vigor da nova lei, eles terão de desenvolver habilidades para resolver problemas, bem como acionar a direção escolar a depender do assunto a ser resolvido.
IMPACTOS NA INTERAÇÃO SOCIAL E NO APRENDIZADO
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Raquel Queiroz apontou ainda que a presença dos celulares nas escolas estava prejudicando a interação entre os estudantes: “No horário do intervalo, por exemplo, as crianças já não queriam mais brincar ou conversar com o coleguinha. Apenas permaneciam com o celular, às vezes trocando mensagens com o colega do lado”.
A pedagoga citou ainda que quando os celulares estavam liberados em sala de aula, era cena comum se deparar com estudantes de braços cruzados enquanto o professor escrevia o conteúdo na lousa, para fotografá-lo ao final. “Assim, até o exercício motor de escrever a mão os alunos não estavam fazendo mais, e ele é muito importante. O exercício da escrita, por exemplo, pode fazer que a pessoa seja uma exímio músico, cirurgião, que desenvolva atividades artísticas com o uso do lápis. Tudo isso se perde quando se usa apenas dois dedos para tirar uma foto da lousa”, avaliou a educadora, destacando, ainda, que toda a população precisa ser reeducada sobre o bom uso dos aparelhos celulares para que sejam uma ferramenta para auxiliar nas habilidades e não um item que gere dependência.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Durante a entrevista, Raquel também detalhou como tem funcionado o processo de recolhimento dos aparelhos celulares na escola que ela trabalha.
“Na primeira aula, um funcionário da escola passa recolhendo os celulares. Cada estudante coloca o próprio aparelho desligado em uma caixa o celular, tendo o cuidado de não bater em outro celular. Essa caixa é travada e o funcionário a leva para a sala de direção ou a outro local seguro da escola. Somente na última aula, esse funcionário passa de sala em sala e cada estudante pega o seu celular”, contou.
A pedagoga também comentou que as escolas têm tido que pensar formas de criar situações atrativas, especialmente no horário do intervalo, para estimular um ambiente de interação entre os estudantes.
“Uma vez que não há mais o celular, é preciso colocar um atrativo no lugar, se não as crianças se sentem perdidas e aí começam as discussões, especialmente de relacionamento interpessoal: ‘Eu quero brincar com você, mas você não quer brincar comigo’, coisas assim. Porém, este tipo de frustação também é importante para a criança, pois nem sempre ela vai conviver com quem goste dela e deve lidar com isso”.
Por fim, Raquel Queiroz destacou que é preciso desfazer uma imagem equivocada de que a escola pública é um ambiente ruim e que não leva os estudantes a aprender nada.
“A escola pública é acolhedora, ensina, tem qualidade. Temos que valorizá-la, afinal, a grande maioria da população sentou-se nos bancos escolares de uma escola pública um dia”, comentou. “Se todos os nossos estudantes atingirem o melhor da educação, o nosso entorno vai ficar melhor, a nossa vida em sociedade vai ser melhor”, concluiu.
Assista abaixo a íntegra da entrevista de Raquel Queiroz ao programa Revista da Semana, que é apresentado na rádio comunitária Cantareira FM sempre aos sábados, das 10h às 12h, com reprise aos domingos, das 14h às 16h.