No ‘Revista da Semana’, Manoel Hélio apresenta o livro ‘Uma Poesia Para Raul’

Os versos vieram à cabeça e passaram para o papel mais próximo que ele encontrou: o de divulgação de um dos candidatos à eleição da comissão interna de prevenção de acidentes de uma grande empresa. Manoel Hélio Alves lá estava trabalhando com mesário pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. E assim escreveu o poema ‘Canção do Migrante’:

Tenho saudades da terra onde nasci
Dos seus rios, vales e montanhas
Da minha casa e do meu povo
Do cheiro do cacau e das pedras preciosas
Por terras estranhas, estou a vagar
Aqui encontrei meu amor, sofro minhas dores,
São quase quatro décadas longe de ti
Guardo na memória cada lembrança do passado
O que será ‘de eu’ sem suas raízes
O que será ‘de eu’ com tantas saudades
O que será ‘de eu’, terra amada,
Tão distante do meu lar

O poema que abre o livro ‘Uma Poesia Para Raul’ foi declamado ao vivo por Manoel Hélio na edição de 11 de outubro do programa ‘Revista da Semana’, apresentado por Beto Souza e Léo Pereira, desta vez também com a participação do poeta Adão Alves, comunicador da rádio comunitária Cantareira FM.

‘Uma Poesia Para Raul’ também é uma homenagem poética ao genial compositor e cantor Raul Seixas (1945-1989). Manoel Hélio é um ‘raulseixista’ declarado, e o livro, inclusive, é prefaciado por amigos que integram este movimento. A obra foi lançada em 2020 e rapidamente os 250 exemplares acabaram. A 2ª edição foi publicada em 2021, e uma terceira deverá ser lançada em 2026, desta vez pela editora Cogito, referência na divulgação da literatura baiana.

DO ALFABETIZANDO AO POETA

Manoel Hélio Alves, que integra a União Brasileira de Escritores (UBE), nasceu em Macarani, na Bahia, mas ainda na infância sua família mudou-se para a zona Leste da capital paulista. Atualmente, ele vive em São Bernardo do Campo (SP).

Desde os 6 meses de idade, o poeta tem paralisia infantil e encontrou na arte – especialmente por inspiração da mãe – uma forma de expressar seus sentimentos em relação ao que vive no cotidiano e ao que sonha.

“Quando eu comecei a estudar, percebi que era uma criança diferente por causa da paralisia infantil. Eu não estava no ‘padrão’ dos outros meninos. E eu me apaixonava sempre pela menina mais bonita, mais interessante da sala de aula, mas era uma paixão platônica, não me declarava. Então, na minha adolescência e pré-adolescência, eu chegava em casa e escrevia sobre os fatos do meu dia ou que eu imaginava ter vivido com a pessoa, como uma briga ou separação. Eu escrevia no meu caderno e guardava. E neste livro ‘Uma Poesia Para Raul’, também há algo da destes textos da minha juventude”.

Engana-se, porém, quem pensa que a proximidade de Manoel Hélio com o mundo das letras foi um caminho fácil. Ele foi alfabetizado tardiamente, mas no primeiro contato com as letras – em um gibi da Turma da Luluzinha dado por seu vizinho – se interessou em aprender a ler para entender a narrativa das histórias.

“Naquela época, o único livro que tinha na casa do meu pai e da minha mãe era uma Bíblia Sagrada. Jornal, eu só lia quando uma fruta ou peixe que a gente comprava, vinha embrulhado no jornal. Mas eu lia tudo o que aparecia”.

Anos depois, Manoel Hélio foi morar perto de uma biblioteca: “Foi um período maravilhoso na minha vida, pois eu lia Filosofia, Psicologia, Jornalismo, História, clássicos da Literatura. A Biblioteca é algo mágico”, assegura.

VIDA E ARTE

O entrevistado destacou que a literatura “tem um papel importante na nossa formação, porque nos ajuda a começar a ler, a escrever, bem como a se desenvolver em uma profissão. A literatura é vital para todos. Quem lê viaja, amplia seus conhecimentos”.

Manoel Hélio tem como autores prediletos Jorge Amado – e ainda hoje se emociona ao ler o livro “Capitães de Areia” e ao recordar como aquele autor projetou a imagem a Bahia para o mundo – e Castro Alves, este não apenas pelos seus escritos, mas também pelo empenho que teve em libertar as pessoas da escravidão, em fazer uma poesia que denunciava toda aquela situação.

O poeta comenta que sobreviver de arte no Brasil não é uma tarefa fácil: “Eu ainda não alcancei o patamar de pagar uma conta de luz, fazer uma compra de mês ou abastecer o meu carro com o dinheiro da venda dos meu livro, mas alguns amigos meus já conseguem”. Portanto, embora difícil, “não é impossível viver de literatura, mas você tem que, realmente, assumir e ir pra luta. É matar um leão por dia”.

“Pretendo trabalhar a divulgação e difusão do livro ‘Uma Poesia Para Raul’ durante 10 anos, para ver quais portas e janelas ele vai abrir. Depois deste tempo, eu parto para o outro livro. Muita gente ainda precisa ler esta obra. Divulgá-la levará um tempo”, comentou Manoel Hélio dizendo, porém, já ter em mente um livro com um enredo sobre infância, voltado aos adultos; bem como a produção de um romance de época e de uma obra de ficção científica.

NO SARAU E NO RÁDIO

Em todo primeiro sábado de cada mês, na Biblioteca do CEU Sapopemba, o poeta organiza o Sarau do Manoélio, cuja programação e detalhes podem ser visto no Instagram da Biblioteca do CEU Sapopemba (@biblioteca.ceusapopemba).  

Manoel Hélio também comanda o programa “Rock, Baladas e Poemas”, na rádio web Mrock, aos sábados (20h – inédito), com reprise aos domingos (13h e 20h) e às segundas-feiras (20h). O acesso pode ser feito em www.mrock.com.br.

Na ida à rádio Cantareira, o Manoel doou livros que foram repassados a turmas de alfabetização de jovens e adultos (Mova) mantidas pela Associação Cantareira. O autor expressou emoção, pelas redes sociais, ao saber que os livros chegaram nas mãos dos estudantes.

“Quero agradecer imensamente aos professores, alunos, Associação Comunitária da Rádio Cantareira FM e aos projetos educacionais parceiros pelo uso do meu livro ‘Uma Poesia Para Raul’ em sala de aula. Amei!”, escreveu.

Para falar com Manoel Hélio, conecte-se pelo Facebook, Youtube ou Instagram: @manoelhelioalves

Abaixo, assista a íntegra da entrevista no programa ‘Revista da Semana’ de 11 de outubro.