No ‘Ambiente por Inteiro’, Cleverson apresenta seus múltiplos pensamentos e canções

Aos 69 anos, Cleverson José Ferreira é figura conhecida na Subprefeitura da Vila Maria/Vila Guilherme, onde trabalha há 27 anos, e, também, na cena independente de reggae e no ativismo ambiental.
E foi ao som de reggae que ele iniciou sua participação na edição de 30 de julho do programa ‘Ambiente por Inteiro’, da rádio comunitária Cantareira FM, apresentado por Paulo Jofre, desta vez no auditório da Subprefeitura.
“Será que a natureza humana não sente, não ama, não entende, não cede? Da mãe natureza quer se depender, como um adolescente, inconsequente, que ataca pra se defender”, ouviu-se da voz de Cleverson no começo do programa. “O que será de você sem a natureza?”, cantou em outro trecho.
Músico, poeta, arquiteto e urbanista, Cleverson é também um apaixonado pelo estudo da evolução humana. Na conversa com Paulo Jofre, ele recordou, por exemplo, o fóssil “Lucy”, o Australopithecus afarensis de 3,2 milhões de anos, que é o elo para que se chegue ao homo sapiens.
O ser humano e as cidades

O urbanista comentou sobre o fenômeno das grandes cidades em diferentes partes do planeta e seus impactos para todo um país: “A China, por exemplo, tem 20 cidades com mais de 20 milhões de habitantes; e hoje está promovendo políticas para que as pessoas tenham mais filhos, pois estão com receio do impacto do processo de envelhecimento da população e daí não sabe como vão lidar com suas aposentadorias, pensões”.
Ainda que creia que para o homem moderno, “as cidades são a única forma de sobrevivência para o ser humano, o animal que melhor raciocina”, Cleverson ressalta que os povos originários e quilombolas são deixados de lado pelo sistema produtivo e sofrem graves consequências por isso.
“O que a gente percebe é que as pessoas dos quilombos e aldeias estão sendo alijadas do sistema produtivo. O Martinho da Vila até compôs uma música muito legal sobre isso – ‘E o índio cantou o seu canto de guerra, não se escravizou, mas está sumindo da face da terra’ [trecho da letra Tribo dos Carajás (Aruanã Açu)]. Infelizmente está mesmo sumindo”.
Cleverson também comentou muitas situações ruins das cidades, tais como os problemas de saneamento básico, violência, distorções quanto ao índice de desenvolvimento humano, falta de emprego, além da falta de opções de lazer e o receio das pessoas em ficar locais abertos, como nas praças.
O ativista ambiental ressaltou que as gestões públicas devem ter políticas continuadas para o justo trato sobre a qualidade da água, a preservação da cobertura vegetal, a geração de emprego e renda, a produção de hortifruti tanto na região rural quanto na região urbana, e o estímulo à expansão de parques.
Agir em favor do meio ambiente

“Será que conseguiremos daqui pra frente, diante de tantas evidências, perceber que temos de tomar atitudes em relação ao meio ambiente?”, indagou o entrevistado, estimulando que as pessoas não esperem apenas pela ação dos governantes, mas que hajam por si e em comunidade em favor do meio ambiente.
Ele deu o exemplo de um trabalho que a Subprefeitura está desenvolvendo na Praça Alegria Nova, na Vila Guilherme, em parceria com a EMEF Ruy Barbosa. “Lá, as crianças plantaram árvores que a gente ganhou. Colocamos placas com o nome da classe e o nome da espécie nativa”, detalhou, recordando que esta iniciativa o vez retomar os conceitos de ecoparticipação que ele estudou nos anos 1990, enquanto realizava mestrado na USP: “Visão global, ação local”, sintetizou.
Cleverson também foi um dos que viabilizaram a implantação do Cades – Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz – na Subprefeitura. Foi ainda protagonista da fixação de uma placa comemorativa pelos 35 anos da Conferência de Estocolmo de 1972, em uma árvore Pau-d’alho, em um bosque perto da Subprefeitura, placa que, infelizmente, foi retirada do local com o decorrer dos anos.
‘Preservar a natureza é nossa maior riqueza’

E se o programa começou com música, foi também ao som do reggae que esta edição do ‘Ambiente por Inteiro’ terminou. Antes, porém, Cleverson agradeceu à Cantareira FM pela oportunidade de ser entrevistado e recordou a Lei da Conservação das Massas, formulada no século XVIII pelo químico francês Antoine Laurent Lavoisier: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Por fim, na batida de reggae, despediu-se com duas canções:
De onde viemos? Onde que estamos? Pra onde que vamos? E o que? Por quê? Pra quem? Onde… E o que? Por quê? Pra quem? Como… E o que? Por quê? Pra quem? Quando… E o que? Por quê? Pra quem? Quanto… |
Preservar a natureza é nossa maior riqueza, Não jogue lixo nos rios, É o nosso desafio, é nosso grande desafio, Saneamento básico em nossas periferias é um caso trágico, não existe hoje em dia […] O ar, o mar, o verde ainda pode nos salvar. |
Abaixo, assista a live do ‘Ambiente por Inteiro’ de 30 de julho