Moradores lutam por um ‘Quarteirão da Saúde’ na Vila Penteado
A edição de 3 de setembro do programa ‘Comunidade em Foco’ deu destaque às mobilizações dos moradores do distrito da Brasilândia por melhorias nos atendimentos de saúde e para a criação do ‘Quarteirão da Saúde’, em um vasto espaço entre as avenidas João Paulo I e José da Natividade Saldanha, na Vila Penteado, que hoje concentra a UBS Maria Cecília Donnangelo, o Hospital Dia da Rede Hora Certa e o Sacolão da Freguesia do Ó, atualmente fechado.
Nos estúdios da rádio, Juçara Terezinha e Adão Alves conversaram com Donato Gregório, Andressa, Abdias e Walter, que atuam ou já atuaram como conselheiros em diferentes equipamentos de saúde na região.
ALTA DEMANDA E PROBLEMAS NOS ATENDIMENTOS

Walter ressaltou que a Brasilândia está com uma alta demanda de atendimentos e que não há estruturas de saúde para todos. Ele exemplificou que na UBS localizada na Vila Progresso existem 35 mil prontuários de moradores do Morro Grande e da Vila Iara. Outros ouvintes que mandaram mensagens durante o programa relataram superlotações e longas esperas nas UBS do Jardim Vista Alegre, Jardim Carumbé e Jardim Elisa Maria.
“Temos muita carência de equipamentos. E há as questões de sempre: falta de médico e de técnicos de algumas áreas. Estando dentro dos conselhos de saúde, nós reivindicamos junto ao governo essas melhorias”, comentou Walter, relatando ainda demoras para a marcação de consultas nas UBSs, além do longo período de espera, por vezes superior a um ano, para ser atendido por um médico especialista.
Também Abdias destacou que todas as unidades de saúde da região estão sufocadas: “Você pega muita fila, demora até passar no médico, fica quase que o dia inteiro à disposição da unidade de saúde. O ideal seria a pessoa ser atendida rapidamente, pois a saúde é um direito nosso e um dever do Estado”.
Donato, por sua vez, recordou que UBS Maria Cecília não dado conta de atender a demanda crescente: “Se atende ali 26 mil pessoas por mês. Não tem sala, não tem espaço, nem médico para isso no Maria Cecília. É a UBS mais procurada na nossa região, até pela localização e por ficar ao lado do Hospital da Rede Hora Certa”.
“As unidades básicas de saúde não acompanharam o crescimento da Brasilândia e estão em situação precária de infraestrutura”, complementou Juçara.
ACESSO ‘AVANÇADO’ DE SAÚDE

Andressa criticou a maneira como vem sendo gerida a estratégia de Acesso Avançado de Saúde. Inicialmente, ela foi pensada para melhor organizar o agendamento dos atendimentos para permitir que quem dê entrada na unidade de saúde seja atendido no mesmo dia ou em até 48 horas após ter o prontuário aberto. Com isso, em tese, se diminuiria o tempo de espera, o número de faltas em consultas agendadas e se permitiria manter minimamente uma agenda aberta para atendimentos diários.
“Quando o Acesso Avançado de Saúde começou, parecia que ia ser bom, pois havia três horários para a busca de atendimento: às 7h, para ser atendido até às 10h; às 12, para ser atendido às 13h; e às 15h, para se atendido até o horário de encerramento. Mas não está assim mais. Hoje, fica tudo para as 7h, e agora as pessoas estão chegando na porta das UBSs às 3h para ficar na fila e garantir a vaga. Claro que muita gente não consegue, daí o pessoal da unidade de saúde recomenda que você procure uma outra UBS ou uma UPA, mas tem caso que é só no posto de saúde do seu bairro que dá para resolver, pois é lá que está a ficha da pessoa e onde ela é acompanhada”, detalhou Andressa.
SUPERLOTAÇÃO NO HOSPITAL DIA
Andressa ressaltou que o Hospital Dia da Rede Hora Certa sempre está superlotado, já que o atendimento abrange a população de toda a cidade, a partir de agendamento feito pelas UBSs para consultas e exames especializados, além de procedimentos cirúrgicos de pequeno e médio porte.
“Hoje você espera cerca de um ano para passar com um especialista, como um dermatologista ou cardiologista, mas se o seu caso for urgente, como fica? Ginecologista, por exemplo, a gente não tem na Rede Hora Certa. Há 25 anos, eu não passo com um ginecologista. Como fica a saúde da mulher?”, disse Andressa.
Ela comentou, ainda, que após passar por três consultas na Rede Hora Certa, o paciente depende de um novo encaminhamento da UBS e volta para a fila de espera “e sabe-se lá quando você será atendido”.
HOSPITAL MUNICIPAL DA BRASILÂNDIA

Os participantes do programa avaliaram ter sido uma conquista dos moradores a instalação do Hospital Municipal da Brasilândia, no Jardim Maristela, inaugurado em 2020, mas que o atendimento precisa ser melhorado.
Donato, por exemplo, assegurou que no Hospital da Brasilândia não há corpo médico suficiente para atender os casos mais graves.
“Terceirizaram a saúde e estamos vendo falta de médico, falta de especialista, falta remédio, falta fralda geriátrica. A saúde não pode esperar. Nós não podemos aceitar que o médico desconfie de uma doença que a pessoa tenha e que ela só consiga fazer o exame muito tempo depois”, enfatizou Donato.
Walter lembrou o Hospital da Brasilândia realiza cerca de 19 mil atendimentos por mês, já no Hospital Dia são 21 mil atendimentos, “mesmo sendo menor que o da Brasilândia, mas por ter mais médico de qualidade”.
A PROPOSTA DO QUARTEIRÃO DA SAÚDE

Diante de todo este contexto, nos últimos anos as lideranças em saúde dos bairros dos distrito da Brasilândia têm dialogado sobre como melhorar o atendimento à população. Uma das alternativas que se apresenta como viável e de mais rápida execução é transformar todo o espaço do Hospital Dia da Rede Hora Certa, da UBS Maria Cecília e o terreno do sacolão desativado na Vila Penteado no “Quarteirão da Saúde”, que permitiria acesso a diferentes especialidades médicas, um atendimento mais ágil e com facilidade para exames e consultas.
“A ideia é ter um espaço que atenda a gente da cabeça aos pés, ou seja, se a gente primeiro passa no clínico geral, depois teria a consulta com o cardiologista, com o neurologista, se precisar, ou seja, teria como fazer todos os exames. É diferente do ‘ping-pong’ que vivemos hoje, em que você espera de dois a três anos para conseguir fazer um exame”, detalhou Donato.
“Hoje vemos a necessidade de ampliar a UBS Maria Cecília ou construir uma nova, já que o sacolão foi desativado, e por isso pensamos em fazer dali o ‘Quarteirão da Saúde’, usando aquele espaço do sacolão desativado. Também haveria ali um equipamento para fazer exames laboratoriais, uma sala de espera para o Centro de Especialidade Odontológica (CEO), um espaço de atendimento para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Vamos lutar para que ali seja um centro de referência em saúde na região”, comentou Walter, recordando que em agosto foi realizado o abraço simbólico no ‘Quarteirão da Saúde’.
Abdias destacou o quanto esta iniciativa é urgente: “Como a Brasilândia está crescendo muito, com a vinda do Metrô, do Rodoanel e a construção de prédios, a nossa população tem aumentado, por isso estamos pedindo este ‘Quarteirão da Saúde’, pois hoje o atendimento está sufocado e a tendência é a população sofrer mais ainda, sem ter atendimento adequado e infraestrutura”.
Andressa lamentou que em vez do ‘Quarteirão da Saúde’ a Prefeitura esteja querendo montar um armazém solidário no sacolão desativado. “Isso não é uma prioridade para a região agora”, enfatizou.
Por fim, os participantes motivaram que cada pessoa se engaje na luta pelo ‘Quarteirão da Saúde’, busque acompanhar como está o atendimento na UBS do bairro em que vive e participe das reuniões dos conselhos de saúde.
“População, vamos apoiar os conselheiros e vamos frequentar as reuniões dos conselhos de saúde. Venham lutar com a gente, pois, do contrário, vamos continuar na mesmice”, alertou Walter.
Abaixo, assista a íntegra do ‘Comunidade em Foco’ de 3 de setembro
