Missionários do Instituto Maryknoll visitam a rádio comunitária Cantareira FM

Prestes a completar 50 anos de atuação no Brasil, Instituto Maryknoll, que congrega padres, leigos e religiosos missionários em diferentes partes do mundo desde 1911, realizou sua assembleia no país, na cidade de João Pessoa (PB), em fevereiro.

Entre os participantes estiveram o Padre Dionísio, que tem atuação em paróquias da Arquidiocese de São Paulo, e o leigo Benny Linneman, ambos norte-americanos. Em visita à rádio comunitária Cantareira FM, em 15 de fevereiro, eles falaram sobre a presença dos missionários de Maryknoll no Brasil em entrevista aos comunicadores Beto Souza e Padre Cilto José Rosembach, este último um dos fundadores da emissora.

“Agradeço ao Instituto Maryknoll que há muitos anos tem apoiado a nossa rádio. O nosso projeto está de pé também graças ao apoio de vocês”, comentou Padre Cilto, ao lembrar que além da rádio, a Associação Cantareira mantém iniciativas em educação popular e diferentes formações de interesse social.

Volta ao Brasil depois de 30 anos

Atualmente, Benny mora em Nova York, nos Estados Unidos, mas viveu no Brasil entre 1985 e 1994, sendo missionário na região de Ermelino Matarazzo, na Paróquia São Francisco de Assis, que à época tinha como Pároco o Padre Ticão (já falecido). O bispo que atuava diretamente na região era Dom Angélico Sândalo Bernardino, então Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo.

“Foi uma época de muitos movimentos e das CEBs [comunidades eclesiais de base]. A gente trabalhava em uma das favelas maiores, Nossa Senhora Aparecida. Estou com saudades! Eu adoro o Brasil, tenho muita saudade do povo daqui”, disse Benny, com a emoção de quem volta a visitar o Brasil após mais de 30 anos.

O leigo também recordou o empenho pastoral de Dom Angélico: “Um dia, estávamos em 40 mil pessoas na praça em frente à Catedral de São Miguel Paulista. E a água estava entrando pelos buracos do teto. E Dom Angélico falava para o povo: ‘Gente, vamos lutar pela moradia, e o dia que todos nós conseguirmos as nossas próprias casas, vamos voltar aqui para a igreja e construir um novo teto’”.

Aposentado, hoje em dia Benny atua em uma associação voltada à assistência a refugiados do Afeganistão e do Irã que chegam aos Estados Unidos. “Estamos vivendo um tempo difícil com o fechamento das fronteiras aos migrantes, nessa administração dos Republicanos”, comentou. A esposa dele trabalha em uma fundação católica com incidência na área de moradia, ajudando que associações e coletivos obtenham financiamentos para construir casas a pessoas de baixa renda.

Padre Cilto conversa com Benny; Padre Dionísio também é entrevistado na rádio Cantareira


Um padre que se dedica a curar traumas

Padre Dionísio, por sua vez, nasceu no estado de Indiana, nos Estados Unidos. Ele chegou ao Brasil em 1994, ainda como seminarista, e foi em missão ao estado do Tocantins, recém desmembrado de Goiás.

“Trabalhávamos com 40 comunidades, espalhadas pela área rural, e naquela época só havia cinco padres diocesanos e cinco padres missionários. A maioria da ação pastoral, portanto, era feita por leigos e leigas: passávamos de 3 a 4 dias pelas comunidades”, recordou, comentando, ainda, que teve experiência pastoral com a população indígena krahô.

Ainda como seminarista, Dionísio foi para João Pessoa (PA). Um ano depois, regressou aos Estados Unidos para concluir seus estudos. Após ordenado, voltou a João Pessoa. Desde 2012, ele vive em São Paulo.

“Na Paraíba, eu prestava assistência pastoral às pessoas LGBTQIA+ e testemunhei muita violência contra elas. Isso me impactou tanto, que eu precisei fazer terapia. Foi quando encontrei a terapia experiência somática, que trabalha com a cura do trauma. Desde então, passei a dedicar-me a isso. Já trabalhei com a cura do trauma em 15 países. Viajo bastante pelo Brasil e é muito gratificante ajudar as pessoas a se curar de um trauma”, expressou o sacerdote.

Prioridades

Padre Dionísio e Benny destacaram que a recente assembleia do Instituto Maryknoll foi ocasião para revistar o histórico de quase 50 anos no Brasil, projetar ações futuras e reforçar as prioridades atuais dos missionários:  a ação pastoral para a cura de traumas e a questão da ecologia, tendo como norte os escritos do Papa Francisco na encíclica Laudato si’ – sobre o cuidado com a casa comum, além da sinodalidade, que está muito frequente nas reflexões da Igreja Católica.

Por fim, Benny destacou o papel da comunicação popular: “É muito importante a comunicação que atenda o povo. Você tem que ter vez e voz, para falar o que está acontecendo com o povo na base, como está sua vida, sua esperança”.

Já Padre Dionísio motivou que as pessoas sejam solidárias umas com as outras a fim de que consigam lutar por seus direitos, em busca de condições melhores de vida e para se oporem à lógica predominante da concentração de poder.

Assista a íntegra da entrevista.