Comunitária Cantareira FM dá destaque aos trabalhos da Produtora Pauta Periférica

Uma equipe de jornalistas, educadores e comunicadores populares movidos por um ideal: democratizar as técnicas de comunicação, com um olhar particularizado para a periferia.
Assim atua a Pauta Periférica, uma produtora popular de conteúdo e de conhecimento, fundada em 2016 por Gisele Alexandre e que tem realizado diversos projetos na zona Sul da capital paulista, especialmente no Capão Redondo, entre os quais o Manda Notícias, o Clube de Criadores EduCapão e o Festival CultCom.
Gisele, na companhia de Carolina Rosa, também jornalista, e Léo Brito, fotojornalista, visitaram a rádio comunitária Cantareira FM na manhã do sábado, 22 de março, como parte de um trabalho de consultoria da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República e da Unesco, em um projeto que aborda os campos de atuação da comunicação popular e do jornalismo periférico em diferentes territórios do País.

“Eu sou a consultora aqui de São Paulo responsável por olhar estas iniciativas e pensar na sustentabilidade destes veículos, e repasso essas informações ao Governo Federal. Por isso, viemos aqui hoje para conversar com vocês, em vista de construir uma política pública que beneficie e fortaleça as iniciativas de comunicação popular”, explicou Gisele em entrevista ao programa Revista da Semana, apresentado por Beto Souza e Rubens Andrade, com a participação especial do comunicador Anderson Braz.
O JORNALISMO A PARTIR DA PERIFERIA
Carolina Rosa, também moradora do Capão Redondo, explicou que a Produtora Pauta Periférica busca ressaltar que a cultura é um direito às populações das periferias. Ela celebra o fato de que nos últimos anos os “moradores da quebrada” tenham mais orgulho em falar de seus territórios.
“Conseguimos mostrar a zona Sul como um celeiro de artistas, mas, ao mesmo tempo, sem romantizar, porque continua sendo um gueto e vivemos todos os desdobramentos de estarmos à margem da cidade. Vamos entendo, porém, que é no território que a gente reside que está a história da nossa família e que ele nos constitui como ‘ser urbano’. Essa questão da identidade, eu acredito que vem muito do hip-hop, que trouxe muito esse pertencimento. É muito bom poder escrever e pensar pautas para pessoas que são iguais a mim. Eu me sinto muito feliz por este momento. Fazer jornalismo comunitário e dele viver não é fácil, mas é bom poder documentar a nossa história e caminhada”, avaliou Carolina.

Questionado se definitivamente a “Favela venceu”, Léo Brito ponderou: “Lógico, que venceu. A gente venceu sempre a ausência de política pública, de saneamento, de segurança para os nossos e de trabalho. Nisso, somos campeões, disparadamente. Mas ainda não vencemos em muita coisa e temos que nos dar as mãos: o que está embaixo pegar na mão do que acha que está em cima, pois só assim pra dar certo, pra não ficar isolado”.
DESAFIOS E SUPERAÇÕES
Gisele destacou que a Produtora Pauta Periférica é conduzida por uma mulher e com muitas outras mulheres em funções de liderança: “Para nós, o machismo ainda é um desafio diário de se conviver, estando em um cargo de liderança em comunicação, mesmo na nossa quebrada”.
A fundadora do Pauta Periférica também ressaltou que a projeção da cultura local é fundamental para que as pessoas valorizem a própria identidade e tenham força para as batalhas no campo intelectual.

“Quando eu comecei no Jornalismo, eu vi muita coisa acontecendo na minha quebrada, o Capão Redondo, como as situações de violência e vulnerabilidade, mas eu pensei em ter outro olhar, no sentido de mostrar o que tem de legal na minha periferia. Portanto, não via apenas a violência; via também a potência da minha quebrada. E foi assim que comecei a fazer reportagens para entender quem eram os grafiteiros e como eles faziam denúncias por meio da arte, do grafite”, comentou Gisele, recordando os contatos frequentes com os membros dos Racionais MCs, originário do Capão Redondo, e um dos maiores expoentes do rap nacional.
“Temos de pensar que o Jornalismo pode ser feito a partir de territórios. Podemos criar as nossas próprias narrativas, e isso pode estar na tevê e nas rádios, seja nas comunitárias, seja nas de massa”, complementou.
Os trabalhos da Produtora Pauta Periférica podem ser conhecidos nas redes sociais: @pautaperiferica. Abaixo, assista a íntegra da entrevista no programa Revista da Semana, que vai ao ar todo o sábado, das 10h às 12h, com reprise aos domingos, as 14h às 16h, na rádio comunitária Cantareira FM.