‘Comunidade em Foco’ traz detalhes da ‘Marcha da Periferia na Brasilândia’ de 29 de novembro

“Nossas vidas importam: queremos saúde, justiça e educação e direito ao futuro”. Com este lema, na tarde do sábado, 29 de novembro, estudantes, juventudes, artistas e todos os demais interessados participaram da 11ª Marcha da Periferia na Brasilândia.

A concentração será a partir das 14h na praça do Circo Escola (Avenida Padre Orlando Garcia da Silveira, 35-107, na Vila Penteado), com chegada na Casa Luiza Mahin (Rua Nair Ramos Shuring, 167, Vila Brasilândia).

Na edição de 12 de novembro do programa ‘Comunidade em Foco’, da rádio comunitária Cantareira FM, Juçara Terezinha entrevistou três dos organizadores da Marcha: a professora Flávia Bischain, a artista Luiza Akimoto e Israel Luiz.

HISTÓRICO

Flávia explicou que a Marcha da Periferia tem suas origens no ano de 2006, no Maranhão, lutando por reparações ao povo negro no Mês da Consciência Negra. De lá, se expandiu para outras localidades do país. Na Brasilândia, a Marcha ocorreu pela primeira vez em 2015, mesmo ano em que estudantes ocuparam as escolas estaduais para evitar que fossem fechadas à época ou tivessem seus turnos de aulas reduzidos.

“A escola Damy [Escola Estadual Martin Egidio Damy] era a única escola da Brasilândia ocupada, e eu já era professora lá desde 2011”, recordou Flávia, que ajudou a criar o Comitê Brasilândia Nossas Vidas Importam (@brasilandiaemluta) e é atual coordenadora da subsede Oeste Lapa da Apeoesp, o sindicato professores do estado de São Paulo.

A LUTA POR EDUCAÇÃO

Flávia destacou que a realização da Marcha ocorre no momento em o governo Tarcísio de Freitas está tentando fazer uma nova organização das escolas, com vistas a fechar algumas salas do período noturno e das turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“Os estudantes trabalhadores estão ficando sem estudar, o que será uma tragédia. Por isso que é tão importante a gente retomar esta memória da ocupação e da luta pelo direito à educação”, destacou Flávia. “O EJA vai fechar e os alunos estão sendo transferidos compulsoriamente de escola ou de turno. Na Escola Estadual João Solimeo, por exemplo, os estudantes estão sendo matriculados no período da manhã, mas eles trabalham e, assim, não conseguirão mais estudar”, explicou.

“O Tarcísio também planeja dividir escolas grandes e trará empresas para administrá-las. É um processo de enxugamento da educação, mas o governo disfarça, dizendo que será um modelo melhor para ouvir a comunidade, mas na verdade estas mudanças estão sendo feitas sem diálogo algum com a comunidade”, assegurou Flávia.

JUSTIÇA E VERDADEIRA SEGURANÇA PÚBLICA

Israel Luiz nasceu no Pará e vive na Brasilândia há seis anos. Ele observou que tradicionalmente os protestos no Mês da Consciência Negra ocorrem nas regiões centrais das cidades, o que torna a Marcha da Periferia uma ação ainda mais especial.

“É na periferia que vive a maioria da população negra, indígena e trabalhadora como um todo”, comentou, destacando, ainda, a luta a grande preocupação da população com as questões de segurança pública.

“Muitas vezes, infelizmente, a ideia que o Estado traz de segurança pública, na verdade, aumenta a insegurança. É por isso que na Marcha a gente traz as bandeiras das pessoas que são moradoras do Elisa Maria, do Vista Alegre e de outras partes aqui na região, e que foram presas injustamente ou perderam a vida em ações desastradas da Polícia”, detalhou Israel.

“A segurança pública não pode ser pretexto para fazer violência contra os trabalhadores. E Marcha convida a população a pensar se é isso que a gente quer ou se queremos outra segurança pública, em que possamos viver seguros efetivamente no nosso bairro”, prosseguiu.

A CULTURA DA PERIFERIA

Luiza Akimoto, documentarista e comunicadora social, e, também, integrante do coletivo Cria Coragem, falou sobre as atrações culturais da Marcha.

A partir das 14h, quando começa a concentração para a Marcha, será realizado um momento de contação de histórias para as crianças, com o grupo “Retalho de história” e a “Cia Muvuca”.

Às 14h30, o microfone estará aberto à comunidade e haverá as intervenções do Slam Parada, além de um sarau cultural. Depois, os participantes sairão em marcha pelas ruas até a Casa Luiza Mahin, onde acontecerão shows musicais, intervenções artísticas e uma exposição fotográfica da senhora Sônia Bischain e de fotos da ocupação de 2015 na Escola Estadual Martin Egidio Damy.

“Esta é uma marcha também dos artistas da Brasilândia, da galera da cultura, dos movimentos políticos e culturais”, destacou Luiza.

“É importante trazer a memória das ocupações, pois quando crianças, adolescentes, trabalhadores e pessoas periféricas ocupam o espaço, a gente consegue modificar e transformar este espaço em um lugar que é feito para nós. A Marcha, então, vem com esta energia, esta força de modificação”, complementou.

PROTAGONISTAS DA PRÓPRIA HISTÓRIA

Juçara Terezinha e os participantes criticaram a estigmatização da Brasilândia como um local violento e de pessoas alheias aos problemas de seu entorno, que vem sendo retratado na novela Três Graças, da TV Globo, cuja enredo fala da “Chacrinha”, alusivo à Brasilândia.

“Como toda novela da Globo, a visão sobre a periferia é simplificada demais. Quando a grande mídia apresenta a periferia, tende a simplificar de uma maneira negativa. E a Marcha vem justamente para dizer que apesar de todos os problemas que existem, a gente não está sentado esperando a coisa acontecer”, enfatizou Israel.

“A gente não é telespectador da nossa história, mas sim protagonista da nossa história. Eu não tenho a mínima vontade de ficar sentada vendo gente burguesa representar a minha narrativa. Eu estou mais a fim de ir pra rua junto com os meus amigos artistas pra gente representar e ser protagonistas das nossas histórias. Aqui na Brasilândia existe uma cultura muito forte, enraizada, e vamos marchar para preservar esta cultura negra, indígena, fazendo a contra narrativa destas representações que não representam a gente”, enfatizou Luiza.

“Estamos cansados de que outros falem por nós, ainda mais reproduzindo uma estigmatização preconceituosa contra a periferia. E a Marcha é este ‘falar nós por nós’, de modo que a periferia mostre sua própria arte, própria cultura e sua própria política”, disse a professora Flávia, destacando que artistas e pessoas de outras periferias da região Sul e Leste, além de Osasco e Cajamar, costumam a participar da Marcha da Periferia na Brasilândia.

“Nesta novela, o povo da Chacrinha não tem voz, não tem protagonismo da coisa, não tem coragem de denunciar as coisas erradas. E esta não é cara da Brasilândia, não é a nossa trajetória”, disse Juçara, elogiando os participantes da Marcha pela iniciativa que denúncia o descaso do Estado com a periferia.

Saiba mais sobre a Marcha da Periferia na Brasilândia nos seguintes perfis no Instagram: @casaluizamahin, @brasilandiaemluta e @luizakimoto.

VEJA A ÍNTEGRA DA LIVE DE 12 DE NOVEMBRO DO COMUNIDADE EM FOCO