‘Comunidade em Foco’ destaca que a saúde mental é um direito

Uma em cada oito pessoas no mundo convive com algum tipo de sofrimento mental, sendo a depressão e ansiedade as manifestações mais comuns, e que foram potencializadas durante a pandemia de COVID-19. Os dados são da Organização Mundial da Saúde e tem preocupado especialistas, ativistas sociais e autoridades em todo o mundo.
A edição de 3 de abril do programa Comunidade em Foco, na rádio comunitária Cantareira FM, destacou a temática da saúde mental como um direito que não deve ser esquecido. Na ocasião, as comunicadoras Juçara Terezinha e Simone Preciozo conversaram sobre o tema, de forma on-line, com Cremildo Volanin, coordenador do Curso Latino-americano e caribenho de formação pastoral, ofertado pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP), e com a terapeuta comunitária Dayana Carneiro.
A SAÚDE MENTAL COMO UM DIREITO

O curso latino-americano e caribenho de formação pastoral 2025 acontecerá entre 3 de agosto e 12 de setembro com o tema “Saúde mental com direito: desafios e caminhos para as igrejas e pastorais”.
“A escolha deste tema surgiu a partir da percepção da maior demanda em saúde mental neste pós-pandemia, já que ao longo da pandemia a saúde mental das pessoas se agravou, há mais pessoas que se encontram doentes mentalmente agora do que antes da pandemia”, detalhou Cremildo, destacando que o CESEEP existe desde 1982 e que o curso latino-americano e caribenho foi iniciado no ano seguinte, sempre trazendo temáticas da realidade urbana.
“O curso buscará caminhos que visem a políticas públicas em relação à saúde mental, mas também falará de projetos que seriam alternativas às pessoas de baixa renda e a realização da terapia comunitária integrativa é uma delas”, explicou Cremildo.
TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA

Dayana Carneiro detalhou que a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é “uma estratégia para se trabalhar as dores, os sofrimentos, as dificuldades, os problemas das pessoas de uma maneira bastante eficaz e de forma coletiva”.
A TCI é uma metodologia freiriana (à luz da abordagem educacional do educador Paulo Freire), criada em 1987 pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto. “Um dos lemas da TCI é o de que quando a gente cala o corpo fala; e quando a gente fala, o corpo sara”, explicou Dayana.
A especialista também lembrou que uma das regras da TCI é que a pessoa fale por si própria. Desse modo, há a valorização dos testemunhos pessoais de superação. São as próprias pessoas do grupo que faz a terapia que escolhem um tema entre aqueles expostos pelos participantes, e a partir disso o facilitador, o terapeuta, lança uma questão para que todos pensem conjuntamente como ajudar uma pessoa. Nesse modelo, segundo Dayana, podem ser usados outros saberes, como poesias e músicas.
Essa abordagem terapêutica que trabalha as questões emocionais e psicológicas das pessoas de forma coletiva já está no rol das Práticas Integrativas de Saúde ofertadas pelo SUS.
Com longa trajetória como professora, Simone Preciozo defendeu que a TCI seja também pensada como uma política pública para as escolas, pois se as pessoas forem bem acolhidas em seus problemas, já desde crianças e na juventude, vão adoecer menos, e toda a sociedade será beneficiada.
PASSAGEM PELA ASSOCIAÇÃO CANTAREIRA

O Curso latino-americano e caribenho de formação pastoral é sempre realizado em formato híbrido: alguns participantes o fazem presencialmente, outros de modo on-line. A duração é de seis semanas e há aulas com teólogos, psicólogos, terapeutas e sociólogos.
Segundo Cremildo, a maioria dos que se inscrevem são pessoas ligadas às igrejas, mas a formação é aberta a todos os interessados.
Em 16 de agosto, os participantes do curso estarão na sede da Associação Cantareira, na Vila Terezinha, para conhecer a rádio comunitária e dialogar com os comunicadores, os educadores da Cantareira e as pessoas de comunidades próximas que já participam de grupos de TCI, como tem ocorrido nas Paróquias São José, em Perus, e Nossa Senhora Mãe e Rainha, no Pan-Americano, com formações ministradas por Dayana e o Padre Dionísio, do Instituto Maryknoll.
“Nós criamos uma metodologia na qual juntamos outras terapias. A abordagem da experiência somática, com a qual o Padre Dionísio já trabalha, e que fala da constelação familiares sistêmicas, trabalhando os traumas transgeracionais e outros traumas individuais e sociais. É uma atividade com bastante dinâmicas, músicas e as pessoas podem encontrar um espaço de negociação dos seus traumas e de busca da cura”, explicou Dayana Carneiro.
“A proposta é de que a gente possa trazer a consciência sobre qual é o problema de fato e convidar que essa pessoa possa estar no aqui e no agora, pois muitas, exaustas, ou estão muito no futuro, super ansiosas, ou muito no passado, superdepressivas. Temos de tentar estar mais no presente e dar mais ouvidos para o corpo, pois muitas vezes só fazemos as coisas como se tivéssemos apenas nosso cérebro, mas é preciso dar atenção ao corpo como um todo, na busca de um bem estar individual e coletivo”, enfatizou Dayana.
Segundo Cremildo, um dos objetivos do curso é de abrir os olhos das igrejas para que tenham entre seus agentes leigos pessoas capacitadas para lidar com as questões da saúde mental.
Ainda há vagas para o Curso Latino-americano e caribenho de formação pastoral “Saúde mental como direito: desafios e caminhos para as igrejas e pastorais”, que acontecerá de 3 de agosto a 12 de setembro. As inscrições podem ser feitas em www.ceseep.org.br. Para mais detalhes, envie um e-mail para formacaopastoral@ceseep.org.br ou ligue para (11) 91515-7150.
Abaixo, assista a íntegra da edição de 3 de abril do programa Comunidade em Foco.