‘Comunidade em Foco’ destaca o poder de socialização da capoeira inclusiva

Expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, atividade física, cultura popular, dança e música, a capoeira tem sido usada para facilitar a socialização de pessoas neurodivergentes.

O assunto foi tratado na edição de 31 de julho do programa “Comunidade em Foco”, apresentado por Adão Alves e Juçara Terezinha, que entrevistaram o mestrando de capoeira Luiz e a neuropsicopedagoga Márcia Mariano, respectivamente vice-presidente e presidente da Associação Beneficente Albaninho, no Jardim Carumbé.

O mestrando Luiz – que está no último estágio antes de se tornar mestre de capoeira – dá aula em 14 escolas e se especializou em capoeira inclusiva, fazendo um trabalho particularizado de ensino dessa expressão cultural especialmente para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, cujas manifestações vão desde aspectos comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, até a padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados.

UM AMOR INCOMPARÁVEL

Luiz – hoje com 44 anos – pratica capoeira desde os 8 anos, e teve o despertar para ensinar a técnica às pessoas com autismo após testemunhar uma experiência de extremo carinho.

“Uma vez, eu fui a um evento de capoeira e havia um adolescente neurodivergente. Nós tiramos uma foto. Dois anos depois, eu voltei a este local e esse adolescente mostrou a foto que tinha tirado comigo. E foi este tamanho amor que me fez ter interesse em trabalhar com este público”, destacou o mestrando, assegurando que a capoeira pode ajudar no desenvolvimento de autistas, pessoas com TDHA e em cadeira de rodas.

“Sempre usamos músicas educativas, músicas pedagógicas ou de linguagens que as crianças neurodivergentes possam entender, como por exemplo, uma música da Galinha Pintadinha”, explicou.

CADA ALUNO É UMA HISTÓRIA

Trata-se de um trabalho particularizado, considerando as peculiaridades de cada aluno, a fim de que consiga, a seu tempo, entender os movimentos próprios da capoeira para repeti-los naturalmente.

“Tive um aluno autista que demorou dois anos para fazer o primeiro movimento, mas depois daquele ele passou a fazer todos os demais, fazia de 70% a 80% de tudo o que era passado em uma aula”, lembrou Luiz.

“Na capoeira, nem todos precisam chegara a um desenvolvimento para a luta. O desenvolvimento pode ser para tocar um instrumento, para cantar, para fazer acrobacias”, detalhou o mestrando. “Só você usando de amor, de carinho, se dedicando e estudando para conseguir fazer um processo de inclusão, a partir do entender das necessidades de cada pessoa com autismo”.

Márcia, Juçara, Adão e Luiz lamentaram que ainda haja muito estigma em relação à prática da capoeira no Brasil. Também expressaram o desejo que a técnica seja mais difundidas nas escolas públicas, como uma forma de socialização e, no caso da capoeira inclusiva, também de inclusão.

Márcia destacou ser fundamental o vínculo criado entre o mestrando Luiz e as crianças para que elas desenvolvam suas habilidades, após sentirem segurança naquele que as orienta.

Adão lembrou que as pessoas com TEA têm dificuldades de interação social, mas que de algum modo a sociedade precisa fazer com que todo autista seja incluído como parte da sociedade e tenha sua voz respeitada.

O DESAFIO NA ESCOLA

Luiz lembrou que as escolas públicas não têm o devido suporte para bem acolher e instruir as crianças e adolescentes com TEA. Ele recordou que em palestras que dá junto com Márcia a respeito da convivência com crianças autistas têm percebido que os professores não estão devidamente formados para lidar com as neurodivergentes no ambiente escolar.

“As crianças neurodivergentes precisam ter uma escola preparada para acolhê-las. Depois, já adultas, precisarão ter oportunidades no mercado de trabalho, pois têm direito a uma vida normal. Tenho um paciente que está trabalhando em um restaurante; outro irá se casar em breve”, disse Márcia.

A neuropsicopedagoga defendeu que haja mais políticas públicas na base em favor das pessoas com TEA, pois não adianta haver uma grande estrutura centralizada, sem que se garanta as pessoas maneiras de nela chegar de modo permanente.

Márcia e Luiz lembraram que para a boa inclusão das pessoas com autismo na capoeira bem como em atividades esportivas é fundamental que o professor tenha bom preparo para conseguir inserir esta pessoa na dinâmica da atividade e permitir que ela se desenvolva, bem como é fundamental que se realize um diálogo com a família para conhecer as peculiaridades dessa criança.

Luiz, por fim, ressaltou ser importante ver cada autista como uma pessoa, com suas peculiaridades, e não com um estereótipo: “A inclusão social é fundamental. Já cheguei em escola em que o aluno autista ficava separado dos demais, ninguém chegava para falar com ele, mas por meio da minha aula, as outras crianças ajudaram este aluno a fazer o movimento ou ele começou a cantar e a se envolver na comunicação do grupo”.

Márcia tem dado palestras sobre autismo em diferentes e Luiz também está disponível para levar a capoeira inclusiva às escolas, sendo a primeira aula experimental gratuita. Os canais de contato deles são (11) 99663-5350 [Márcia] e (11) 97955-0034 [Luiz].

Abaixo assista a integra da live do ‘Comunidade em Foco’ de 31 de julho.