‘Comunidade em Foco’ destaca iniciativa de combate a incêndios florestais

O acelerado processo de mudanças climáticas, somado a uma ocupação desordenada próximas às áreas de conservação ambiental e à ausência de políticas públicas nestas localidades têm potencializado os impactos dos incêndios florestais na cidade de São Paulo.

O tema foi tratado na edição de 10 de abril do programa “Comunidade em Foco”, na rádio comunitária Cantareira FM. Na ocasião, Juçara Terezinha conversou com Paulo Jofre e Suzi Cavalari, que têm difundido o projeto Brigada Florestal Popular; e com os líderes comunitários Quintino José Viana, Olegário, Irenize e Rogéria, que vivem no Distrito da Brasilândia.

O PAPEL DAS BRIGADAS DE INCÊNDIO

Paulo Jofre, da Brigada de Incêndio Caxinguelê, explicou que a criação das brigadas está amparada na lei federal 14.944/2024, que instituiu a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, popularmente chamada de MIF. Recordou, ainda, que os autores de incêndio de modo intencional cometem um crime descrito no Código Penal Brasileiro, que pode ser punido com prisão.

Suzi, que é ativista socioambiental e coordena o projeto Brigada Florestal Popular, explicou que a iniciativa busca formar brigadistas para combate aos focos de incêndio e fomenta ações de educação ambiental para evitar situações que potencializem os focos de incêndio.

Paulo Jofre explica a ação das brigadas

“Com a degradação ambiental e as mudanças climáticas, os focos de incêndio aumentam e se espalham mais rápido e é cada vez mais difícil combater este fogo.  Por isso, é importante pensar na prevenção. No ano passado, tivemos mais de 280 mil focos de incêndio no Brasil, um número 46% maior que em 2023”, explicou Suzi.

A ativista socioambiental ressaltou, ainda, que uma floresta que já pegou fogo está mais suscetível a queimar novamente, e lembrou que uma floresta queimada leva quase três décadas para se recompor.

Paulo Jofre detalhou que já há brigadas formadas para cada um dos parques no entorno da Serra da Cantareira e que embora grande parte dos incêndios sejam propositais, muitos outros resultam do fato de as pessoas colocarem fogo para queimar lixo acumulado e a chama se espalha pela floresta de modo descontrolado.

“As brigadas, portanto, fazem este papel de entrosamento com as comunidades locais para poder orientar em como prevenir os incêndios”, disse Paulo, destacando, ainda que se aproxima a época de estiagem, quando aumentam os focos de incêndio, de maneira que é fundamental que já haja brigadas formadas.

Suzi recordou que mais de 90% dos incêndios que acontecem na Serra da Cantareira são na borda das unidades de conservação, ou seja, onde as pessoas moram, e que ter brigadas de incêndio formadas nessas comunidades dá celeridade para combater os focos de incêndio.

“Quando ocorre o incêndio em uma área de conservação e se aciona o Corpo de Bombeiros, eles perguntam qual é o endereço, mas não há como darmos nome da rua de dentro da floresta. E muitas vezes o fogo vai se espalhando de quatro a seis horas até chegar o Corpo de Bombeiros ou a Defesa Civil. Fica tarde demais. Por isso, a importância de termos as brigadas”, ressaltou Suzi.

UMA REALIDADE VIVIDA DE PERTO

Juçara Terezinha e Quintino Viana

Irenize, moradora da comunidade conhecida como Tribo, destacou que, de fato, a Defesa Civil e os Bombeiros demoram para chegar e acessar os locais quando há incêndios nas florestas próximas às comunidades.

A líder comunitária lembrou, ainda, que é habitual que os moradores façam a queima do lixo acumulado, devido ao fato de a Prefeitura não disponibilizar de modo permanente as caçambas para que se deposite o lixo, nem haver a passagem do caminhão de coleta nas áreas de ocupação. Ela recordou que já ocorreram dois incêndios na comunidade da Tribo.

“Se a Prefeitura colocasse em cada comunidade uma caçamba de lixo, isso já ajudaria as pessoas a recolherem o lixo. Nós temos tentado conversar com os moradores, fazer mutirão de limpeza, porém é muito difícil. Quando a Prefeitura manda uma caçamba, coloca pela manhã e já recolhe à tarde. Não é o tempo suficiente. Assim, a gente precisaria na comunidade de projetos como este da Brigada de Incêndio”, afirmou Suzi.

Essa realidade também foi descrita por Rogéria, moradora do Jardim Damasceno: “Eu mesmo, tomando todo cuidado, já precisei fazer queimada de lixo, pois em frente às casas acaba ficando com muito inseto, vários ratos, as casas ficam em frente destes terrenos que acumulam lixo”.

Olegário lamentou que haja um descaso do poder público quanto às questões ambientais na Brasilândia e ressaltou que, diante disso, as pessoas das comunidade devem ser organizar: “É fundamental que as famílias que vivem perto dessas áreas verdes tenham treinamento sobre o combate às queimadas para saber como lidar quando o problema acontecer”.

Lideranças comunitárias e idealizadores do projeto

“Pra gente que mora ao lado da Serra da Cantareira, que é o pulmão da cidade de São Paulo, será fundamental que vocês, da Brigada, nos ajudem com as informações sobre as leis a respeito dessa proteção ambiental, para que quando forem montadas as comissões na Câmara Municipal e na Alesp, a gente possa ver os nossos direitos e as questões ambientais. No Distrito da Brasilândia, vivem 300 mil habitantes e só há um ecoponto. Isso é ruim. A informação de coleta seletiva e do cata-bagulho não chega à população. Até na porta das escolas tem lixo acumulado, só por isso já vemos o quanto está errado”, enfatizou Olegário.

Quintino Viana, histórica liderança ambiental na região, enfatizou que o poder público precisa fiscalizar melhor essa questão para inibir a realização dos incêndios intencionalmente provocados, mas ressaltou que somente com a educação ambiental que haverá mudanças mais permanentes, na medida em que as novas gerações ajudem a preservar a água e o ar, repensem o descarte de resíduos antes de simplesmente se tornarem lixo e para que toda a população saiba identificar as situação diversas de crime ambiental, como o descarte dos esgoto nos rios, algo que com frequência ainda acontece no Jardim Damasceno.

Abaixo, assista a íntegra da entrevista na edição de 10 de abril do programa “Comunidade em Foco”.