“O ambientalismo é uma coisa que nasce com você”. Na vida do ambientalista Bruno Matiazzo esse dom se tornou ainda mais pujante em 2007 quando conheceu a Sea Shepherd Conservation Society, organização internacional criada em 1977 por Paul Watson que atua para que as leis internacionais de conservação ambiental sejam cumpridas nos diferentes países.

Tempos depois, Bruno ajudou a fundar a Sea Shepherd do Rio de Janeiro e tem se dedicado à causa ambiental, também por meio de suas habilidades como instrutor de mergulho, cinematógrafo submarino e floresteiro.

O ativista ambiental foi entrevistado por Paulo Jofre na edição de 28 de maio do programa ‘Ambiente por Inteiro’, da rádio comunitária Cantareira FM, diretamente da Serra da Cantareira, a qual Bruno Matiazzo conheceu há um ano e se encantou: “Aqui é um paraíso ecológico, de uma diversidade sem precedentes na região Sudeste do Brasil. Eu nunca tinha visto uma coisa tão abundante como é aqui na Serra da Cantareira”.

OS EMBATES CONTRA O PODER

Atualmente, Bruno não integra mais a Sea Shepherd, após discordar das políticas adotadas pela instituição, mesmo caminho que anteriormente fizera o próprio Paul Watson, que fundou a Paul Watson Conservation Society, que tem o apoio do Bruno.

A ambientalista explicou que ativistas como ele e Paul Watson atuam para obter provas para serem usadas contra os que cometem crimes ambientais: “Esse é o nosso principal foco aqui no Brasil. É muito importante frisar que aqui, quando a gente opera por meio de desobediência civil, nos respaldamos em um artigo no Código Civil Brasileiro que empodera qualquer cidadão brasileiro a agir com o uso da força, se necessário, caso presencie em delito flagrante um crime ambiental sendo cometido”, contou Bruno, destacando que no País o crime ambiental é inafiançável.

Paulo Jofre lamentou que muitas pessoas ainda hoje usam o tema meio ambiente para se autopromover por interesse, “para se destacar dentro de uma outra questão que não tem nada a ver com o meio ambiente, por exemplo. Infelizmente, temos muitos políticos que utilizam o tema ambiental para poder aparecer”.

O apresentador ponderou que Paul Watson, ao contrário, já foi até preso na Groenlândia por pressionar o governo japonês diante das ocorrências de mortandade de baleias naquele país, um negócio rentável a quem o faz: “Os baleiros vão, matam as baleias e tiram tudo o que elas têm para poder transformar isso em capital”.

“O Paul Watson, ao longo de 15 anos de operações, conseguiu frear a indústria baleira japonesa por dois anos. Três embarcações foram apreendidas e o Paul Watson é responsável por um prejuízo de milhões e milhões e milhões da indústria baleira japonesa”, complementou o entrevistado.

CUIDADO COM AS ABELHAS

Bruno também participa do GMA – Guardiões da Mata Atlântica e do Coletivo Tupinambá, com ações em prol da Mata Atlântica. Ele tem atuado no monitoramento da criação das abelhas sem ferrão, muitas das vezes se embrenhando por quilômetros de matas para encontrá-las em seus habitats.

O ambientalista contou que as abelhas são responsáveis por 70% da polinização da floresta, sendo, portanto, essenciais para toda a fauna e a flora.

“As pessoas desconhecem a magnitude e a riqueza que a natureza nos traz. E saber isso é de fundamental importância nestes momentos em que tudo está sendo destruído e depredado, em que há pouquíssimo cuidado com o ambiente de modo geral. A gente tem de educar as novas gerações”, opinou.

Em suas pesquisas, Bruno procura compreender qual é a real incidência da população das abelhas sem ferrão, ameaçadas em seu habitat natural.

Ele também alerta que as pessoas precisam ter mais conhecimentos sobre as reais condições dos oceanos no Brasil: “Quando você conversa com mergulhadores que estiveram mergulhando diariamente nos anos 1960, nos anos 1970, eles descrevem um oásis submerso, mas hoje em dia, aquela fauna abundante, aquela coisa riquíssima, já não existe mais”.

NÃO SE INTIMIDAR PERANTE OS DEVASTADORES

Tanto Paulo Jofre quanto Bruno Matiazzo relataram situações em que os ambientalistas são ameaçados pelos devastadores do meio ambiente, em geral pessoas com grande poderio financeiro.

“Pra se ter ideia do nível de ignorância dessas pessoas. ‘Olha, eu tenho que construir um condomínio aqui. Então eu vou destruir 13 mil metros da Mata Atlântica para fazer um condomínio que vai gerar emprego, mais residências e tudo. Isso é balela, mentira, porque eles só visam ao lucro. E com cada ambiente que é destruído da natureza vai sendo perdida justamente a condição primordial de sobrevivência de um ser humano e de todas as outras espécies. Há espécies que já estão em extinção, outras já foram extintas, e isso é um efeito cascata, porque nós seremos os próximos em extinção, pois estamos destruindo a nossa casa, a natureza! Não tem cabimento!”, afirmou Jofre.

“A filosofia dos caras é produção, produção, produção. Gente, não vai haver produção de nada se não houver mais o ecossistema! É simples assim!”, ressaltou o apresentador.

Bruno, por sua vez, citou o caso de um político brasileiro que disse que iria abrir todas as áreas de proteção ambiental (Apas) ainda não exploradas para as operadoras de mergulho recreacional. Diante disso, os ambientalistas reagiram fazendo um boicote nacional e internacional a essa pessoa na internet, convocando todos os mergulhadores do Brasil a não operar com as escolas que estavam levantando a bandeira esse determinado político.

“Ao longo desse boicote nacional, eu consegui entender quem eram os reais ambientalistas dentro da sociedade do mergulho brasileiro. Aqueles instrutores de mergulho que batalharam para estar ali, que deram, às vezes, tudo que tinham na vida para montar uma operadora de mergulho, esse passaram a estender o tapete vermelho para nós. E foi uma coisa muito generalizada a nível nacional. Hoje a gente tem um respaldo muito grande por causa dessa movimentação. Em virtude da nossa argumentação, as certificadoras de mergulho se viram obrigadas a pedir para essas pessoas poderosas se conterem”, detalhou o ambientalista.

Paulo Jofre, por fim, fez um apelo para que os grandes empreendedores pensem em novos modelos, que não sejam os só de derrubar milhares de árvores para instalar seus condomínios: “Isso é um modelo burro, que a sociedade ainda aprova por conta de status. ‘Imagina um condomínio dentro da Mata Atlântica. Você vai poder ver da sua janela a Mata Atlântica’. Que discurso furado, gente! Você está destruindo a natureza, na verdade, em vez de colaborar. Vamos tirar esse pensamento antigo, primitivo!”.

Bruno também apontou que atualmente a especulação imobiliária representa a maior ameaça para o meio ambiente brasileiro. “Basta ver as estatísticas e os dados que vêm sendo coletados por diversas organizações. São alarmantes”.

Por fim, o ambientalista recomendou a todos a leitura do livro “Earth Force – um guia de estratégia para o guerreiro da terra”, de autoria do Paul Watson. “Que essa mensagem sobre o ambientalismo seja cada vez mais repassada para as novas gerações, não só sobre a necessidade de ser preservado, mas também os meios de se fazer com que seja preservado”, concluiu.

O programa ‘Ambiente por Inteiro’ vai ao ar na Cantareira FM toda quarta-feira, ao vivo, das 12h05 às 12h30, com reprise aos sábados, às 7h. Abaixo veja a live do programa de 28 de maio.