‘Amizade Aberta’ apresenta detalhes do P.A.S – Projeto Alimento Solidário

Diariamente, no itinerário até o trabalho, Viviane Fontes e alguns de seus amigos, como Rodrigo Vogliotti, se deparavam com a vulnerabilidade das pessoas em situação de rua, especialmente na região do bairro da Lapa e da Vila Romana, na zona Oeste.

Em 2021, a partir da Casa Sol, um lar espírita, eles e um grupo de voluntários se uniram para produzir marmitas: da primeira vez, foram apenas 22. Ao longo dos anos, a ação se expandiu para além dessa instituição e se transformou no P.A.S – Projeto Alimento Solidário. Em entrevista ao programa Amizade Aberta, da rádio comunitária Cantareira FM, em 27 de março, apresentado pelo comunicador Anderson Braz, Viviane contou detalhes sobre a iniciativa.

NÃO APENAS ALIMENTOS

Atualmente, o grupo de voluntários faz a distribuição das refeições às pessoas em situação de rua às segundas-feiras à noite nas regiões da Lapa-Vila Romana, Piqueri e Barra Funda. Em uma semana, há a entrega de cerca de 200 marmitas, em outra de lanches.

“Nosso objetivo é de ajudar as pessoas que andam pelas ruas, e já sabemos onde são os lugares em que elas mais se concentram. E é incrível como a quantidade produzida dá certinho. Às vezes, resta uma marmita a entregar e aparece uma pessoa que precisa”, contou Viviane.

O trabalho de produção dos lanches ou marmitas começa na manhã do dia de cada entrega, tendo à frente da cozinha a senhora Celi, mãe de Viviane: “É comida de mãe, uma delícia!”. Há também voluntários para a montagem das marmitas e para as entregas, feitas em três carros.

Viviane e Anderson Braz

“Com o tempo, fomos agregando nessa entrega, graças às doações, kits de higiene, roupas, chinelos e cobertores”, detalhou Viviane, assegurando que até hoje o grupo não encontrou problema algum para realizar as entregas, seja por parte de autoridades, seja por parte das pessoas em situação de rua.

O que se acumulou ao longo dos anos foram as histórias de gratidão: “Um relato que me marcou muito foi de um garoto, de uns 20 anos, que estava em um farol. Nós o chamamos e oferecemos uma marmita, e ele ficou muito feliz ­– ‘Nossa, eu vou poder voltar pra casa hoje!’. Ele estava vendendo coisas no farol e a grana que iria ganhar seria justamente pra comprar comida. E ele pediu pra levar uma segunda marmita, nós demos, e ele saiu pulando pela rua, em direção a um ponto de ônibus. Isso encheu o nosso coração”, recordou Viviane.

“Quando a gente ajuda, a gente também está se ajudando, pois isso nos dá uma energia, um bem-estar. E quando entregamos, vemos sorrisos, vemos as pessoas agradecendo a Deus e vemos que, de alguma forma, transformamos a vida da pessoa naquele momento”, prosseguiu a integrante do P.A.S

PRÓXIMOS PASSOS

Entrevista sobre o P.A.S

Viviane comentou que um passo futuro do projeto será o de dar mais dignidade às pessoas em situação de rua: “Talvez pensando em um espaço para que elas possam tomar banho, trocar de roupa, ajudando a fazer um currículo, dando o valor do transporte para irem a uma entrevista, enfim, descobrir as habilidades que elas tenham e dar dignidade e assistência para essas pessoas voltarem à vida social”.

A integrante do P.A.S comentou que a maioria das pessoas em situação de rua relata ter problema recorrente com o vício em álcool, e que lutam para vencê-lo, mas que precisam de políticas públicas e da solidariedade de toda a sociedade para recobrar uma vida digna.

“A situação de rua é uma coisa muito complexa de se resolver em um país grande como o nosso. Mas aos olhos da política, não é uma coisa rentável resolver este problema, pois é um lugar excludente, marginalizado. Não há uma solução posta e definitiva”, avaliou.

COMO CONTRIBUIR

O P.A.S – Projeto Alimento Solidário aceita doações de alimentos não perecíveis, kits de higiene, cobertores, roupas, além de doações financeiras, que podem ser feitas por meio da chave PIX: rodrigo.vogliotti@gmail.com.

Também são bem-vindas pessoas que queiram se voluntariar no projeto, especialmente para a preparação dos alimentos, montagem das marmitas e lavagem dos utensílios usados.

“Imagine que temos panelões que precisam ser lavados para que possamos utilizar mais de uma vez para cozinhar. Precisamos de gente pra lavar louça. Também precisamos de voluntários para montar os kits de alimentos, para separar as roupas por tamanho”, detalhou Viviane.

“Muitos até me falam: ‘você não vai resolver os problemas do mundo com essa ação’. A questão, porém, não é pensar no todo, é pensar no indivíduo. Então, se com nossa ação conseguimos alcançar uma pessoa naquela noite e fazer com que ela tenha vontade de mudar, já valeu o trabalho, pois são as pessoas que mudam o mundo. Portanto, aconselho: não pense no final, pense no caminho, que é a solidariedade, é olhar o próximo, é sentir a dor daquela pessoa, aquilo que ela passa naquele momento, pois a fome é uma coisa muito séria”, concluiu a integrante do P.A.S.

A seguir veja a íntegra da entrevista. O programa Amizade Aberta vai ao ar na comunitária Cantareira FM, às quintas-feiras, das 20h às 22h, com reprise aos sábados, das 22h às 23h55.