Representatividade ainda é desafio no entretenimento brasileiro
Mesmo com avanço fãs e artistas apontam falta de inclusão em filmes, séries, jogos e quadrinhos.
Por Victoria Marques
A representatividade precisa estar presente no dia a dia, porque dá espaço para todos os tipos de pessoas em vários âmbitos, incluindo na área do entretenimento, como em filmes, séries e jogos.
Eventos como a CCXP (Comic Con Experience) pode dar esse espaço para a comunidade de fãs e visibilidade para os artistas que produzem trabalhos com a intenção de gerar identificação, o que é muito importante visto que grande parte da população brasileira consome videogames, séries e filmes.
Segundo a PGB (Pesquisa Game Brasil), 82,8% dos brasileiros têm o hábito de consumir jogos digitais e um levantamento da Nexus descobriu que 72% dos brasileiros consomem streamings de vídeo. Esses números provam por si só a diversidade de pessoas que consomem, mas ainda assim, existe a necessidade de ampliá-la.
Como no caso de Clarisse Valate, que é mãe de Miguel de 12 anos que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista) nível 2 de suporte e Maria de 9 anos que tem TDAH (Transtorno de Ansiedade e Hiperatividade), e ela conta que é difícil encontrar personagens que representem seus filhos no dia a dia: “É difícil de eles se enxergarem dentro das séries, dos seriados, das histórias, dos quadrinhos, livros. Então é importante se a gente tivesse mais inclusão. Muito necessário”.
Mas Clarisse não deixa de incentivá-los a consumir cultura em diferentes meios, como na leitura: “Eles têm muitas ideias, eles precisam de estrutura e eu acredito que os livros trazem isso para eles, trazem inspiração, mostram a estrutura e principalmente a história em quadrinho que ela é dentro de uma estrutura formal”.
Segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2,4 milhões de brasileiros são autistas, o que chega a 1,2% da população do País, mas ainda há pouco nas mídias no geral. Isso se parece muito com o que ocorre com o público feminino, porque mulheres representam 51,5%, mas continuam sendo pouco representadas na visão das fãs.
A jornalista e escritora Gabriela Borges lê histórias em quadrinhos desde criança, e fala sobre como se via nas histórias: “Eu não me sentia tão representada pelas histórias de super-heróis, principalmente na minha infância. Hoje isso já vem mudando bastante com algumas artistas, mulheres coloristas, quadrinistas, desenhistas, roteiristas nos grandes estúdios”. “Conforme eu fui crescendo, depois com as novelas gráficas, eu vi que existia um mundo de histórias autorais, autobiográficas que traziam diferentes visões de mundo, diferentes vivências e aí sim eu podia me identificar mais”, concluiu.
Luisa Orvate, é designer e cosplayer (se caracteriza como um personagem) e acredita que hoje têm mais mulheres nas telas: “Eu acredito que em obras antigas a diversidade é muito menor, porque geralmente tem só um personagem feminino. E isso é algo que eu venho vendo muito mais hoje. Eu vejo grupos que só tem mulheres ou grupos mistos e isso é uma coisa que eu consigo me enxergar mais, eu fico mais feliz”. Ela pontua que é importante que os outros profissionais que trabalham nas produções, além dos atores, também merecem esse reconhecimento e cuidado por parte dos fãs.
Robson Moura é professor e autor de HQs, e ele fala sobre como é difícil ser artista no Brasil, mas que pode ser gratificante: “Nós, artistas, a gente tem muito uma relação de prazer, de amor, porque o mercado brasileiro, ele ainda é emergente, ele não comporta todo mundo. Então você tem que fazer porque você gosta muito”.
As histórias de Moura abordam racismo e preconceitos, e ele acredita que esse assunto recebeu certa visibilidade, mas não o suficiente: “É como se tivesse sido uma ‘moda’ e agora só quem realmente acredita faz esse tipo de trabalho. Mas eu acho extremamente importante porque eu uso em sala de aula com meus alunos, trago discussões super atuais, então é legal você sempre acreditar no que você tá fazendo”.
A Central de Notícias da Rádio Cantareira é uma iniciativa do Projeto “Grêmios”. Este projeto foi realizado com o apoio da 9ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária Para a Cidade de São Paulo
