No ‘Revista da Semana’, Serviço Família Acolhedora Esperança Lapa apresenta seus trabalhos
A edição do programa “Revista da Semana”, de 4 de outubro, apresentado por Beto Souza e Léo Pereira, abriu espaço para a explicação dos trabalhos realizados pelo Serviço Família Acolhedora Esperança Lapa. Participaram Gessy Rocha Duarte, gerente do serviço, a assistente social Michele e a pedagoga Mariana.
O Serviço Família Acolhedora Esperança Lapa foi implantado em março de 2022, tendo como objetivo organizar o acolhimento, em lares de famílias acolhedoras, de crianças e adolescentes que foram afastados de suas famílias de origem após terem sofrido alguma violação de direitos. Trata-se de um serviço alternativo ao abrigamento mais comum dado a estas crianças em abrigos e orfanatos.
Gessy enfatizou que a família acolhedora o faz de maneira voluntária, por cerca de 18 meses, após ser bem instruída para tal acolhimento, que de modo algum resultará na adoção futura desta criança.
O PROCESSO PARA SE TORNAR UMA FAMÍLIA ACOLHEDORA
O primeiro passo para se tornar uma família acolhedora é entrar em contato pelos canais oficiais do Serviço Família Acolhedora Esperança Lapa: pelo telefone/WhastApp (11) 3672-4143 ou pelo Instagram:@familiaacolhedoraesperanca.
Depois, a família que deseja acolher – seja composta por casal homem/mulher, seja união homoafetiva ou mesmo quem more sozinho – passará por um processo de explicação sobre como funciona este serviço e quais os critérios para se tornar família acolhedora – ser maior de 18 anos, viver em São Paulo há dois anos, não ter interesse em adoção, nem antecedentes criminais, e ter disponibilidade para atenção e responsabilidade próprios do cuidado de uma criança.
“A gente é bastante cuidadoso no processo de seleção. Não basta querer ser família acolhedora. Este é apenas o pontapé inicial. Existe todo um processo de formação que essa família terá de fazer. Nosso objetivo é que a família que entra neste processo, assegure o acolhimento do início ao fim”, explicou Michele.
Ainda de acordo com a psicóloga, quando a família, após receber todas as explicações, aceita ser acolhedora, é realizada uma entrevista presencial e se faz o cadastro para que seja habilitada a essa acolhida. O passo seguinte é a equipe fazer uma visita domiciliar para entender como é a vida dessa família. Fatores como renda familiar e tamanho do domicílio não são impeditivos para ser família acolhedora. “Temos de descontruir a ideia de que quem acolhe é muito abastado, que tem condições boa de vida. Toda a família pode ter condições de acolher uma criança”, assegurou Michele.
Depois de feita a visita e verificado que a família atende os critérios desejados, esta é levada para um percurso formativo, composto de 8 encontros presenciais. “Neles, vamos falar de assuntos relevantes: marco histórico das legislações da infância e adolescência no Brasil; história do acolhimento, família, infância, vínculo, despedida, transição”, prosseguiu Michelle, lembrando que ao final é feita mais uma entrevista e mais uma visita para ver se há mais algum ajuste a ser feito.
A psicóloga enfatizou que todos os membros da família precisam estar de acordo com esta acolhida, incluindo as crianças que nela já existem.
“Temos de ser cuidadosos nestes critérios, pois já foi danoso para essa criança sair da sua família de origem, ela até carrega o sentimento de culpa por ter sido tirada da família por causa da violação. No imaginário dela, pensa: ‘o que será que eu fiz de tão ruim que eu tive de sair da família?’”, explicou a psicóloga.

O PROCESSO DE ACOLHIMENTO
A pedagoga Mariana enfatizou que o grande objetivo desse processo de acolhida é de que a criança ou adolescente saia deste processo melhor do que entrou. Para isso, uma boa recepção inicial na família é indispensável.
“Sempre explicamos que nessa recepção inicial, deve-se evitar os toques físicos intensos; é preciso mostrar bem o local em que essa criança vai ficar na casa; saber de suas necessidades básicas – fome, sono, banho – assim ela vai conhecendo o ambiente”, detalhou Mariana.
Ao longo do acolhimento, a família é convidada a fazer o álbum de histórias dessa criança. “No caso de um bebê, por exemplo, é importante registrar como ele gosta do banho, como é a rotina do sono, quais são os alimentos que ele gosta mais”, detalhou Mariana, explicando que, assim, no futuro essa criança saberá que recebeu muito amor e cuidado. No caso de crianças maiores e adolescentes, estes são chamados a construir junto com a família acolhedora, de forma lúdica, este álbum de histórias.
A pedagoga destacou que embora cada criança tenha sentimentos próprios, a maioria que passa por esse processo de ter de sair de sua família de origem convive com sentimentos como medo, angústia e baixa autoestima. Por isso, cada família acolhedora conta com uma dupla técnica de suporte – uma psicóloga e uma assistente social – que as acompanha. Paralelamente, se faz um trabalho com a família de origem dessa criança para entender o que aconteceu e ver possibilidades de melhorar as situações que desencadearam a saída da criança desta família. Se não for possível fazer esta volta, a criança vai para a fila de adoção e só quando é adotada sai da família acolhedora.
A Prefeitura de São Paulo assegura o valor de um salário-mínimo mensal para custear os cuidados necessários com essa criança que é acolhida, mas isto não deve ser entendido como uma bolsa-auxílio à família.
“Um dos critérios para ser família acolhedora é a família ou a pessoa que irá acolher ter renda estável, e é pedida uma confirmação sobre isso. Trata-se de uma ação voluntária. A pessoa não irá receber para desempenhar este trabalho. Assim, esse salário destinado à criança não deve ser considerado como parte da composição da renda familiar, até porque quando a criança sair da condição de acolhimento, esse dinheiro sai junto com ela. O valor, portanto, é para a despesa com as crianças”, enfatizou Michele.

CASAS E CORAÇÕES ABERTOS
A psicóloga enfatizou que toda a pessoa de boa vontade e que tenha as estruturas mínimas de vida para acolher uma criança pode se habilitar para tal: “Não precisa ser um super-herói. A pessoa só precisa ter maturidade para tocar esta tarefa e saber que poderá contar com a gente. A pessoa não está sozinha nesta jornada”.
Michele lembrou ainda que a imagem da criança e seu nome precisam ser preservados pela família acolhedora, até pelo fato de a família de origem não poder saber onde a criança e o adolescente está atualmente.
Ela lembrou que algumas famílias no começo relutam em acolher ao saber do fato que um dia a criança acolhida irá embora. “É importante pensarmos sempre que esta criança não é nossa. A gente está envolto em uma tarefa que é muito maior do que um interesse pessoal. Portanto, o acolhimento não é sobre o adulto que está acolhendo, é sobre a necessidade de uma criança ou adolescente ter segurança naquele momento de vida. Por isso, é importante pensar sobre o que eu posso agregar na vida da criança no período em que estou cuidando dela individualmente. Temos um slogan: ‘Não tem perigo. Abra os braços e seja abrigo’”.
Segundo Gessy, existe a meta de até o ano de 2027, em todo o Brasil, de que 25% das crianças afastadas de suas famílias de origem estejam em acolhimento familiar. “Hoje, infelizmente, a taxa é somente de 6,2% em um universo de cerca de 33 mil crianças”, detalhou. “Por isso, precisamos de mais pessoas que abram seus corações e suas casas para acolher estas crianças, pois ao terem este cuidado individualizado, elas irão se desenvolver melhor”.
Na cidade de São Paulo, além do Família Acolhedora Esperança Lapa este serviço já acontece, conveniado com a Prefeitura de São Paulo, em outros quatro núcleos nos bairros de Santana, Guaianases e Santo Amaro, além do “Fazendo História”, na região central. Outros estão em vias de habilitação para se tornarem conveniados.
No Serviço Família Acolhedora Esperança Lapa há atualmente oiro família e quatro crianças em acolhimento. Nestes três anos do Serviço, por lá já passaram cerca de 15 famílias acolhedoras.
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