Brigada Caxinguelê: a postos para combater focos de incêndios na Serra da Cantareira

O fogo se alastrava pela mata. Enquanto os bombeiros para lá se deslocavam, a população, minimamente orientada, já fazia o possível para evitar que as chamas avançassem mais. Quando o caminhão chegou ao local, os brigadistas voluntários orientaram os bombeiros sobre os melhores caminhos a seguir para que acessassem mais rapidamente o local de foco de incêndio.
Este é um relato comum de comunidades em que há brigadas populares de combate a incêndio, como existe atualmente na cidade de Mairiporã, na Grande São Paulo. Trata-se da Brigada de Incêndio Caxinguelê, a primeira da Serra da Cantareira. Na edição de 3 de setembro do programa ‘Ambiente por Inteiro’, a fundadora, Suzi Cavalari, conversou com o apresentador Paulo Jofre, que também integra o grupo formado que já conta com cerca de 15 brigadistas.
“A maior parte destes incêndios nas matas é para limpeza de área. Muitas vezes, as pessoas não fazem isso com o intuito de provocar um ato criminoso, mas é preciso que reforcemos que estamos passando por mudanças climáticas e que estamos em um período de estiagem, portanto, não se deve colocar fogo para a limpeza de terreno agora. Não pode! Não pode!”, enfatizou Suzi, que é jornalista e ativista socioambiental.
A participação de Suzi no programa ocorreu no dia seguinte à Brigada Caxinguelê ter ajudado a combater um incêndio em uma área de mata em Mairiporã. A ativista ambiental recordou que o grupo orientou a população local, bem como auxiliou o trabalho dos bombeiros.
ANTES E DEPOIS DAS CHAMAS

Suzi ressaltou que o indispensável para se combater os incêndios é que se conscientize a população sobre atitudes que possam desencadeá-los, bem como ter iniciativas de monitoramento de pontos de possíveis focos, além da responsabilização efetiva de seus autores.
“Enquanto a gente não achar uma forma de responsabilizar as pessoas por estes atos, a gente vai ficar ‘correndo atrás do rabo’, pois se apaga um incêndio aqui e alguém acende um fósforo mais adiante e começa outro”, lamentou.
Suzi disse, ainda, ser fundamental que o poder público dialogue com as comunidades locais e associações de moradores, também para ajudar na formação de brigadistas e estabelecer planos de ação.
UM TRABALHO QUE PRECISA DE APOIO

A ativista ambiental lembrou que por mais bem formado que seja um brigadista voluntário, não é possível que ele faça o combate a incêndios sem ter os devidos equipamentos de segurança, os quais são de elevado custo.
“Nós, da Brigada Caxinguelê, fizemos a formação sem recurso público algum, conseguimos tudo indo atrás de parcerias”, detalhou.
Outro obstáculo é a burocracia para se formalizar uma brigada popular. A Caxinguelê ainda hoje busca obter seu CNPJ, “para que saibam da transparência da nossa atuação e assim, também, possamos ter uma conta para receber doações”.
Ter recursos financeiros para manter a brigada é algo indispensável, segundo ela: “Não dá pra gente pensar que todos os voluntários sempre vão conseguir se locomover ao local do incêndio custeando a própria ida. Precisamos que outras pessoas abracem este projeto, que participem, não necessariamente no combate ao fogo, mas nesta logística, nesta rede de apoio”.
NÃO MAIS EXCEPCIONALIDADE, UMA REALIDADE

Suzi ressaltou que diante do crescente quadro de mudanças climáticas em todo o mundo, as brigadas de incêndio já são parte do plano de adaptação climática das cidades: “A sociedade terá que se adaptar, porque, infelizmente, esta é a nossa realidade daqui pra frente: os incêndios serão cada vez mais frequentes. Eu moro em uma região de floresta. Como não vou me planejar para isso? Não posso assistir a tudo isso e pensar: ‘deixa acontecer’. Temos de agir!”.
A ativista ambiental também disse que as autoridades públicas devem redobrar atenção sobre a coleta dos resíduos sólidos, para evitar incêndios: “Se não houver a coleta adequada, as pessoas irão queimar o lixo para acabar com o acúmulo. Portanto, é preciso trabalhar as coisas de forma mais embasada para atacar o problema”.
Paulo Jofre complementou que sempre que uma brigada têm ciência de um foco de incêndio, deve notificar a Defesa Civil, para que ela acione o Corpo de Bombeiros. “O ideal é que todos trabalhem em conjunto lindamente bem, mas, infelizmente, ainda não é isso que estamos vendo”, disse, ao lamentar a falta de atuação da Defesa Civil de Mairiporã nos casos de incêndio na serra.
Suzi recordou que no Brasil já existe a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo – lei federal 14.944/2024 – na qual se prevê a criação de brigadas populares de prevenção e combate a incêndio florestal, mas tal regulamentação segue em ritmo diferente conforme cada estado. Em São Paulo, ainda não foi efetivada.
Por fim, a ativista ambiental defendeu que haja mais estudos sobre os efeitos que o total de incêndios florestais produzem no meio ambiente, o que fará com que as autoridades tenham mais atenção sobre o tema e destinem recursos para políticas públicas a respeito.
SAIBA MAIS SOBRE A BRIGADA CAXINGUELÊ: @brigada_popular_caxinguele
O programa ‘Ambiente por Inteiro’ vai ao ar na rádio comunitária Cantareira FM, às quartas-feiras, às 12h05, com reprise aos sábados, às 7h. Abaixo, assista a íntegra do programa de 3 de setembro.