Programa Manas e Manhãs dá voz à causa do povo palestino

Após dois anos de conflitos entre Israel e Palestina, o mundo viu com esperança, na quinta-feira, 9, o anúncio de um acordo de paz para pôr fim à guerra na Faixa de Gaza, após intermediação dos Estados Unidos e alguns países do Oriente Médio, além de manifestações mundo afora pelo fim do genocídio que as forças israelenses têm imposto à povo palestino.

A desproporção desta guerra está explícita nos números: nestes dois anos, 67 mil palestinos foram mortos e 170 mil ficaram feridos; enquanto o saldo para Israel é de 1.665 mortos e algumas centenas de feridos.

Nos últimos meses, a situação do povo palestino foi tema de muitas edições do programa Manas e Manhãs, apresentado por Simone Preciozo na rádio comunitária Cantareira FM. “Enquanto este genocídio não tiver fim, vamos falar exaustivamente de Palestina”, declarou Simone Preciozo em uma das edições.

CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O TEMA

Em 8 de agosto, Terezinha Pinto, biomédica e pedagoga, foi entrevistada no programa. Ela é coordenadora do Núcleo Palestina do Partido dos Trabalhadores, fundado em junho de 2024, e que pensa ações para que a população comum tenha consciência, por meio de uma linguagem compreensível, sobre a realidade vivida pelo povo palestino e a política genocida de Israel.

“As pessoas precisam entender, por exemplo, que a Israel de hoje, não é a Israel da Bíblia; que o Estado judeu religioso, que a terra prometida, é uma invenção do sionismo, com o apoio da Europa, que queria se livrar dos irmãos problemáticos. Essa conscientização vai mais do que falar palavras de ordem na rua. É preciso abrir canais de comunicação com a população para que entendam o que ocorre”, destacou Terezinha, lembrando que o Núcleo tem dialogado com lideranças religiosas no Brasil a este respeito.

Terezinha recordou, por exemplo, que com o apoio dos Estados Unidos, Israel impediu a entrada de medicamentos na Faixa de Gaza, em uma clara atitude de tentar ceifar a vida dos palestinos com doenças, e, também, impôs uma morte de fome ao povo, ao impedir a entrada de alimentos.

Ela também ressaltou que é um erro dizer que na Palestina exista um grupo terrorista: “O que existe é resistência, pois é garantido até pela ONU que povos ocupados tenham direito a resistir à ocupação que sofrem, inclusive de forma armada. E o que aconteceu em 7 de outubro de 2023 foi uma ação de resistência. Os que foram feitos reféns pelo Hamas são colonos ilegais que estavam ocupando as vilas históricas das pessoas de Gaza que são sobreviventes do primeiro holocausto”.

Por fim, Terezinha divulgou o site do Núcleo Palestina, no qual é possível se informar sobre a história da Palestina e entender o conflito atual: https://nucleopalestina.com.br.

ASSISTA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE TEREZINHA PINTO

OS IMPACTOS DA GUERRA NA SAÚDE DOS PALESTINOS

Em 15 de agosto, a conversa foi com o Prof. Dr. Hazem Adel Ashmawi, médico, docente na Unicamp e Coordenador do Coletivo de Profissionais da Saúde pela Palestina Livre. Ele tratou sobre as diferentes formas de violência sofridas pelo povo palestino em relação à saúde.

Descendente de uma família palestina em Gaza, Hazem disse que constantemente recebe pedidos de ajuda de pessoas conhecidas que vivem no território do conflito, devido ao fato de as famílias estarem destruídas, especialmente pelos provedores da casa terem sido mortos no conflito ou saírem de Gaza.

O médico também explicou que devido à interrupção de programas de vacinação em Gaza já há muitos relatos de crianças com poliomielite e de outras morrendo com diarreia aguda: “lá não tem saneamento básico, a água é contaminada, de maneira que a transmissão dessas doenças infectocontagiosas, como a diarreia tem levado à morte de crianças, até pelo fato de lá não estar entrando remédios na quantidade que precisa”.

Hazem destacou ainda o drama vivido pelos doentes crônicos, como pessoas com diabetes, estão em risco de vida por falta de insulina; também quem sofre um infarto não tem tratamento adequado; e quem precisa de diálise também acaba morrendo por falta de atendimento. “Assim, a morte em Gaza tem acontecido não só por eventos extremos, por bombardeios, mas também pela falta de assistência médica”.

Ele comentou ainda que muitas crianças carregarão para sua vida traumas: “Imagine uma criança que não sabe por que perdeu a perna ou por que o pai morreu ou por que o avô ou o irmão não existe mais, e tudo isso em uma idade – dos 7 aos 10 anos – em que nossa personalidade está se formando. É certo que essa criança ficará comprometida psiquicamente devido à quantidade de traumas físicos e emocionais. Teremos no futuro uma série de pessoas com depressão, ansiedade, transtorno de comportamento, doenças psiquiátricas mais graves”, projetou.

Hazam não tem dúvidas que a destruição do sistema de saúde em Gaza é parte do projeto intencional para destruir a qualidade de vida dos palestinos tanto no presente quanto no futuro: “Quando estas pessoas se tornam alvos dos ataques, isso é claramente intencional. Isso impede tanto que haja tratamento hoje quanto no futuro pela falta de profissionais para os que sofrerem com as sequelas do que houve. É algo, portanto, planejado”.

Por fim, o médico lembrou que é preciso que se fale mais sobre este genocídio: “Há um genocídio em curso contra os palestinos. Como brasileiros, temos de nos posicionarmos e peço que todos os cidadãos comuns e formadores de opinião se posicionem a respeito. O silêncio é uma aceitação do que vem acontecendo.”. E desejou: “Que quem fez este genocídio seja condenado, e que continuemos olhando, zelando pelos palestinos que restarem”.

ASSISTA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA COM O PROF. DR. HAZEM NO DIA 15

GAZA: LABORATÓRIO DE HORROR

Já em 29 de agosto, a conversa foi com Jamile Abdel Latif, advogada palestino-brasileira e ativista pela causa palestina. Ela falou sobre o projeto de destruição que atinge Gaza e sua população. Brasileira de origem palestina, essa se casou com um refugiado palestino e o pai dela também viveu essa condição.  

“Eu acordo logo cedo vendo a grande mídia chamando a minha gente de terrorista, e daí via um pai amoroso, metalúrgico, que depois virou comerciante. Também via o meu marido, que é médico, um cara extremamente amoroso. E eu pensava, ‘Por que nos retratam assim?’ E eu tentei entender o que foi que aconteceu com minha gente. E percebi que a mídia, quando não quer que você saiba a verdade, coloca adjetivos e não explica o porquê, coloca ‘aquele é mal’, ‘este é bom’. É uma cumplicidade criminosa da mídia com este lobby sionista”, ressaltou.

Jamile enfatizou que o que está acontecendo com os palestinos em Gaza deveria preocupar toda a população que não faz parte da elite global.

“O que acontece com Gaza é só o início. Estão sendo cruzados patamares, limiares impensáveis. Se a gente vai permitindo isso com Gaza com o silêncio do mundo, daqui pra frente pode ser em qualquer lugar. E podem surgir coisas como ‘vamos acabar com este povo do Haiti que não serve pra nada’’; ‘vamos acabar com este povo do Nordeste do Brasil’; Você, meu amigo, não está dentro de 1% da elite. Você está nos 99% que é deletável. Comece a se ligar, mesmo que não seja por compaixão. Se sua alma é tão corrompida que não sente dor pelos outros, se você não chora pelo sentimento alheio, que ao menos use a cabeça. Quem usar a cabeça ou usar o coração vai estar com o povo palestino”.

A advogada comentou que uma das maiores atrocidades desta guerra é ver a morte de crianças: “Israel mata de fome, por dia, cerca de quatro bebês, crianças. Vocês já viram uma criança morrendo de fome? Ela começa chorando e vai definhando, definhando, se torna pele e osso, com aspecto de ‘velinho’, e aquele corpinho tão pequeno não mais se movimenta, fica esperando a morte, é uma dor profunda. Se isso não lhe comove, camarada, me desculpe, você é um psicopata”.

Jamile lamentou que boa parte dos cristãos não conhecem os Evangelhos, nos quais Cristo critica abertamente a elite judaica, a mesma que hoje está matando os palestinos. “Israel atual nada tem a ver com Israel da Bíblia”.

Neste sentido, a apresentadora Simone Preciozo também externou uma inquietação: “Como é que Deus legitimaria essa barbárie em Gaza? Essa é uma pergunta que todo o evangélico que hasteia a bandeira de Israel deveria se fazer”, disse.

Jamile lamentou que uma pesquisa feita em Israel indicou que 82% dos judeus aprovam o extermínio dos árabes. “Parece bem nazista isso, não?”.

“Israel é uma sociedade de psicopata, uma sociedade que não tem mais compaixão. Quando Israel diz que quer a paz, pergunte a eles qual paz: com os palestinos no cemitério ou expulsos? É isso?”, concluiu.

VEJA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE JAMILE DE 29 DE AGOSTO