‘Manas e Manhãs’ dá destaque ao Coletivo Intifada Brasil

Com a meta de bem formar e informar as pessoas sobre a realidade histórica e sociopolítica do que ocorre na Faixa de Gaza e estimulá-las para que pressionem as autoridades em todo o planeta por ações concretas de atenção ao povo palestino diante dos ataques do governo de Israel, tem se estruturado o Coletivo Intifada, também com representação entre os brasileiros, por meio do Intifada Brasil.

Na edição do programa ‘Manas e Manhãs’ de 4 de julho, duas integrantes da coordenação do Coletivo Intifada Brasil tiveram um extensa conversa com a apresentadora Simone Preciozo: Gabriela Albandes Gomes, jornalista e mestra em Antropologia Social; e Andréa Haddad Gaspar, advogada e socióloga.

COMO SE PENSOU O COLETIVO

Gabriela e Andréa se conhecerem pelas redes sociais, por compartilharem o sentimento comum de indignação com o massacre que Israel tem imposto ao povo palestino. Na troca de diálogos, as duas falaram do desejo de participar da Marcha Global para Gaza, que seria realizada em junho, no Egito, cuja proposta consistia em acampar durante três dias na borda de Rafah, na fronteira daquele país com a Faixa de Gaza.

“A ideia era de uma manifestação pacífica. Nunca se pensou em invadir Gaza, mas sim firmar posição, a fim de demandar que governos fizessem algo em favor do povo palestino”, detalhou Gabriela. Cerca de 10 mil pessoas, de diferentes partes do mundo, se organizaram para ida a Marcha, mas em razão da forte repressão do governo egípcio, já na chegada dos manifestantes em seu território ou em países vizinhos como a Turquia, a realização da Marcha tornou-se inviável.

“Eles confiscaram passaportes, pertences, bateram em algumas pessoas, prenderam outras tantas. Com isso, a primeira leva que foi perto de Gaza disse a quem estava no Cairo que era melhor não ir”, recordou Gabriela. “Ainda sim foi simbólico: nós nos mobilizamos, de diferentes partes do mundo”.

Andréa destacou o protagonismo das mulheres nesta iniciativa: “A gente sofreu muita violência psicológica. Os policiais a paisana no Egito entravam nos hotéis em busca de informações sobre os hóspedes e saíam com as fichas de todos na mão. As mulheres estavam em peso, de 60% a 65% entre os que participariam da Marcha. Simbolicamente, foi importante as pessoas verem o nosso ideal”.

O CONTEXTO DO QUE OCORRE EM GAZA

Andréa explicou que a formação do estado de Israel foi feita “sobre o sofrimento e o sangue de outro povo, roubando-lhes as terras”, com grandes atrocidades cometidas ao longo de décadas e intensificadas nos últimos anos pelos “pacotes de maldades de Israel contra o povo palestino”.

Gabriela apontou que a grande mídia ao longo dos anos reforçou um discurso de que os judeus são sempre vítimas dos fatos – muito em razão do que sofreram durante o Holocausto na 2ª Guerra Mundial -, mas que é preciso que também se aponte para as razões históricas que culminaram para que invadissem as terras do povo palestino, entre os quais os preconceitos que sofriam na Europa.

“Se os judeus acham que a única solução para se livrar do preconceito e da violência dos europeus seja criar um estado para eles, teria de ser a Europa a prover este estado. Não faz o menor sentido os palestinos terem de dar as terras deles para europeus. O problema dos palestinos com os israelenses não é porque eles são judeus, é porque eles são europeus e têm o padrão de chegar em uma terra rica que lhes interessa, pegando os recursos e expulsando e matando pessoas. A história do que aconteceu na Palestina é muito simples: houve um roubo de terras”, detalhou a jornalista e mestre em Antropologia social.

Simone Preciozo recordou que povos árabes vivem sob o julgo imperialista há muito tempo e assegurou serem falsas as notícias de que o Hamas esteja se escondendo no subsolo dos hospitais. Este argumento de Israel, em sua avaliação, é para justificar mais bombardeios na Faixa de Gaza.

“Hoje são os palestinos passando por isso. E amanhã, quem será? Pois o que o império quer é encher os seus postos com combustível, e ter mais metais raros para a indústria de componentes para informática. Para conseguir isso, passam por cima de todo mundo”, alertou a apresentadora do ‘Manas e Manhãs’.

‘NÃO ASSISTIR A ESTA MONSTRUOSIDADE EM SILÊNCIO’

Gabriela disse que o Coletivo Intifada Brasil está aberto a todos os interessados que queiram colaborar com a causa do povo palestino.

“No meu caso, sou jornalista, e decidi escrever a respeito, mas existem outras mil formas de ajudar. O que não dá é para assistir a esta monstruosidade em silêncio. Se isso não for tratado com a seriedade que merece, não vai acabar na Palestina. O que está acontecendo lá faz parte de um contexto colonial, movido por ganância e supremacismo. A mente colonial é totalmente imoral, ela só pensa em recursos”, destacou Gabriela, alertando que o colonialismo não é um fato passado, como se tem visto em Gaza, e tem impulsionamento pela cultura dominante europeia e o financiamento dos Estados Unidos.

Gabriela disse que também tem se dedicado a rebater as informações superficiais e inverídicas que são divulgadas pela grande mídia Ocidental e por dispositivos de Inteligência Artificial como o ChatGPT. Ela recomenda que as pessoas se informem sobre a questão Israel-Palestina por fontes alternativas e que tenham uma linha decolonial de abordagem dos fatos.

“Para os povos terem soberania, autonomia, e para que se acabe com essa palhaçada de o Ocidente ser a liderança do mundo, de oprimir todos e invadir espaços, trocar governos para que sempre influencie no poder, é preciso haver essa consciência das pessoas sobre a generalização dessa visão supremacista”, alertou Gabriela.

Andréa disse que tem buscado dialogar diariamente com as pessoas em Gaza e que está angariando fundos em favor das pessoas afetadas pelos ataques de Israel. “A razão de estarmos aqui neste mundo é para ajudar o outro. Então, temos de parar de chorar e colocar a mão na massa. Unam-se a gente e venham também participar”.

“Nunca, como agora, houve um exército massacrando homens e mulheres como vítimas preferenciais. Nunca houve uma sequência de morte e tortura como desta forma”, lamentou Gabriela, destacando, por fim, que “sem protesto e sem pressão, líderes mundiais não fazem nada. Então, o objetivo do coletivo é de bem formar as pessoas, estimulá-las, pois está muito claro que é somente com a pressão da sociedade civil que isso será parado. Se não houver uma grande mobilização mundial, essa abominação vai continuar”.

Todas as ações do Coletivo Intifada Brasil podem se vistas por meio do Instagram: @IntifadaBrasil.

ASSISTA A ÍNTEGRA DA LIVE DO ‘MANAS E MANHÃS’ DE 4 DE JULHO