O que realmente importa

por Simone Preciozo

A produção de 2007, “Antes de partir”, é uma história que leva a refletir sobre o que realmente importa.  Uma das cenas finais é a de alguém levando as cinzas de um dos protagonistas para o Monte Everest, atendendo a um dos desejos dele expressos em uma lista.

Eu me lembro de um sentimento forte que os dois amigos de quarto de hospital compartilhavam: arrependimento. Junto a este, outro: sede por fazer as coisas que ficaram para trás, pelos mais diversos motivos. Para as pessoas que refletem sobre a própria jornada, imagino que esses sentimentos sejam mesmo comuns.

A sociedade do consumo ou a do cansaço, a pós-moderna, a globalizada (tenha o nome que tiver) nos impele a uma rotina cada vez mais intensa de trabalho, atividades em geral, necessidade de postagens em situações felizes. O que acompanha isso tudo? O dinheiro, claro. Hoje você precisa ter e, mais do que isso, precisa demonstrar que tem.

Quanto você tem se permitido a conexão com a natureza, por exemplo? Apreciar coisas simples, ouvir pássaros, um curso de água.

Existem coisas que se você mostrar nas suas redes não vão provocar likes e engajamento. E, então, vêm aquelas coisas que todo mundo faz porque sim. Viagens à terra do Mickey, comidas em restaurantes da moda, fotos em festas felizes, smartphones reconhecidamente caros, roupas e calçados.

Ainda existem pessoas que fogem à regra.  Têm vontades fora do padrão.

Existem pessoas que se conectam com Deus por sua obra perfeita, distribuída pelo mundo. Você já sentiu isso? O pôr do sol visto por cima de uma montanha ou de uma de areia sempre será diferente daquele que você aprecia por trás do prédio antigo em frente a sua casa. Às vezes, essa visão divina está simplesmente em um local afastado da periferia de São Paulo. Já pensou nisso?

Entretanto, estamos tão preocupados em fazer coisas incríveis e previsíveis que nem passa por nossa cabeça.

Houve um tempo em que trabalhei em um lugar tão isolado, afastado e voltado para o oeste da cidade de São Paulo, que posso dizer que era uma das experiências de ver o por do sol mais bonitas que eu vivi. Outro lugar em que isso aconteceu foi a grande duna de Jericoacoara, onde o sol vai se retirando de cena e deixando tudo dourado por onde passa.  Quanto mais você vive essas experiências, mais valoriza outras, suas ou dos outros.

Eu nunca saltei de paraquedas, nem pratiquei alpinismo. Ainda. Um dia pode ser que eu faça se tiver condições. Porque algumas coisas são mais fáceis de se fazer na juventude. O corpo ajuda.

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CONHECER O TOPO DO MUNDO

Quem consegue tirar os olhos da tela e ver o mundo real pode sentir desejo e coragem para viajar, conhecer o “topo do mundo”.  Superar a necessidade de fazer isso de algum andar alto do hotel luxuoso em Dubai, por exemplo.

Talvez seja isso que os julgadores de plantão que eu estou encontrando nas postagens sobre a moça que estava em uma trilha perigosa na boca do vulcão não entendam.

Alguns porque não conhecem outro percurso diferente do trajeto até a igreja de paredes pretas com um casal de crianças, ou porque só vêm nos stories cenas repetidas, quase uma epidemia de felicidade.  Pensar fora da caixa, fazer coisas diferentes, para uma parte de nós é improvável.

Então vem a revitimização. Não baste todo o sofrimento, sempre há os fiscais de plantão comentando nas postagens aquilo que ninguém perguntou.

Se você não se importa com a emoção do outro, se não é capaz de respeitar, também não tente entender. Algumas pessoas estão em uma frequência diferente. Juliana Marins fará falta ao mundo.

Juliana Marins (foto: Instagram Resgate Juliana Marins)