Paulo Jofre: ‘Nós temos feito por merecer esta bronca do planeta’

Na edição de 4 de junho do programa ‘Ambiente por Inteiro’, na rádio comunitária Cantareira FM, o apresentador Paulo Jofre, neuropsicólogo, escritor, cartunista e ativista ambiental, refletiu sobre os impactos da ação humana no planeta, e a urgência que se haja para que não ocorra a completa degradação do meio ambiente.  

“Imagine o telhado da sua casa caindo sobre sua cabeça, a água invadindo tudo; ou sendo poluída a água que você bebe ou que usa para tomar banho. Se você não fizer uma manutenção adequada, a casa desaba e você perde a sua moradia. O planeta é a nossa casa, o planeta é o nosso avô, tataravô, bisavó, porque nós herdamos aqui essa casa, planeta Terra, graças aos nossos ancestrais, e estamos em um momento urgente”, insistiu.

 A BUSCA DO LUCRO REDUNDA EM MAIOR POLUIÇÃO

Jofre lamentou que ainda haja indústrias que despejam rejeitos nos rios, “infelizmente, a maioria dos empresários somente pensa no lucro, poucos deles são conscientes das suas responsabilidades ambientais, poucos fazem todo um tratamento das águas, dos resíduos que são deixados, e assim nossos rios, principalmente na situação urbana, são totalmente poluídos”.

O cartunista que é criador de “O Folha – Super-herói”, o maior gibi itinerante do mundo, falou sobre como a Terra tem reagido as ações de degradação humana, citando um exemplo do que diz nas exposições itinerantes de “O Folha”.

“Na conversa com os estudantes, eu sempre pergunto: ‘Por que nós temos febre no nosso organismo?’ E a resposta é: ‘Para expulsar os micro-organismos, vírus, bactérias que se alojam dentro de nós’. Então, o nosso organismo inteligente, ele esquenta para tentar eliminar aquele ser estranho que invadiu e que pode causar algum malefício para a nossa saúde. Talvez seja assim que a Terra entenda a nossa ação, aqui na crosta terrestre, porque ela está esquentando cada vez mais, talvez para nos expulsar. A Terra está febril, muito provavelmente para expulsar o invasor. Quem é o invasor? Puxa vida, somos nós”.

Jofre disse ser pouco inteligível a ação dos que buscam o máximo lucro destruindo o meio ambiente. “Se não houver planeta, se não houver população, esses empresários vão lucrar com o quê? Essa destruição, portanto, é uma grande burrice. É um ‘tiro no pé’ de industriais, de grandes capitalistas: quanto mais se destrói, quanto mais se tira da Terra, mais se provoca o aquecimento global”.

“A Terra, inteligente, está tentando sanar um problema, e nós temos feito por merecer esta bronca do planeta, por conta do nosso descuidado com as questões aqui”, complementou.

Estudantes na exposição de ‘O Folha – Super-herói’

CONTAMINAÇÃO DO SOLO

Jofre lamentou que ainda hoje haja construções que não estejam interligadas à rede de esgoto e que fazem uso de fossa séptica – buracos no chão para o acúmulo de rejeitos humanos.

“Quando se faz a fossa séptica e se deixa lá, aos poucos esse dejeto se liquefaz pela ação das bactérias, que se multiplicam, fermentam esse material, que vira chorume e flui para dentro da terra, chegando aos lençóis freáticos… Imagine os dejetos orgânicos de 50 mil pessoas que vivem aqui na Serra da Cantareira indo para o solo da terra, que até então era limpo. Na verdade, nós estamos, aos poucos, poluindo o solo, causando malefícios, e quando isso chegar no lençol freático, poderá causar vários problemas, como viroses que acabam afetando o nosso organismo. Portanto, tudo que a gente faz contra a natureza é ‘tiro no pé’, por isso que a gente tem que tomar essa consciência o quanto antes”.

PEQUENAS MUDANÇAS DE HÁBITOS

O apresentador lembrou que pequenas mudanças de hábitos fazem toda a diferença em favor do meio ambiente, como, por exemplo, o uso de sabonetes e detergentes biodegradáveis, a fim de que o sabão não afete os lençóis freáticos.

“Se você usar os produtos convencionais, aqueles que não se degradam, você está sendo uma pessoa tóxica para o meio ambiente, produzindo detritos, resíduos, dejetos que vão poluir o meio ambiente e não vão ser reciclados”.

Jofre também recomendou o menor uso possível de plástico: “O plástico, por exemplo, é um resíduo que demora no mínimo 300 anos para começar a se degradar. Portanto, use na sua cozinha produtos biodegradáveis para limpeza, e não polua ainda mais o nosso planeta. Se os grandes industriais não estão fazendo o papel deles, vamos fazer nós o nosso”.

‘O FOLHA’ E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Naquela semana, estava em exposição no Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha (SP), a exposição de “O Folha – Super-herói”, que teve grande visitação de escolas.

“Esse gibi tem um personagem principal, que é ‘O Folha Super-herói’, um herói nacional com todas as características para chamar a atenção para o meio ambiente. Ele é um híbrido de ser humano e um ser da natureza, tem aquelas manchas verdes pelo corpo, porque ele se fundiu com uma planta. Ele pensa como se fosse uma planta, pensa como se fosse um elemento da natureza. Aliás, nós também o somos, mas nos esquecemos disso”.

Jofre explicou que a história em quadrinho retrata uma grande aventura, uma expedição no meio da selva amazônica, indo para a região do Parque Montanhas do Tumucumaque, que é o maior parque de floresta tropical do mundo, entre o Amapá e o Pará, uma floresta ainda intocada.

O apresentador detalhou que ao longo da exposição, os participantes também realizaram atividades de pintura e encenação teatral com base nos personagens retratados no gibi.

“Isso é muito legal, porque esses atores retornam para suas casas com a ideia do meio ambiente, da preservação, do cuidado com o meio ambiente. E essa história é tão rica, porque representa vários segmentos da sociedade, principalmente para o público jovem. Nós temos um personagem chamado Repolho, que é um ET, que está fazendo experimentos químicos, mas é um ‘ET do bem’. Ele tem uma visão de cuidado e de preservação. E esse apelido foi dado a ele pelo Raoni, que é outro personagem da história. O Repolho tem a cabeça meio esverdeada, por isso do apelido. Os alunos adoram esse personagem. Ele é uma metáfora daqueles nerds, aquele aluno que é mais aficionado pelos estudos, comportado, centrado, equilibrado, quietinho na dele, fazendo as suas atividades”, detalhou.

“Nessa história, nós fazemos o trabalho todo de inclusão não só do meio ambiente, mas do trabalho social. Eu tenho observado que as crianças se identificam muito com o Repolho, pois ele representa aquele aluno que está quietinho no canto dele, fazendo as atividades. Ele é acolhido pelo Raoni, que é um índio fortão, bem ativo, comunicativo, que agita bastante coisa ali, para defender a sua comunidade, defender a floresta”, concluiu.

O programa ‘Ambiente por Inteiro’ vai ao ar, às quartas-feiras, às 12h05, com reprise aos sábados, às 7h, na rádio comunitária Cantareira FM. Abaixo, assista edição que foi ao ar em 4 de junho.