‘O reciclado não é lixo, é ouro’, diz recicladora Dafila no ‘Ambiente por Inteiro’

“Quando você recicla o seu lixo, você está não só ajudando o meio ambiente, você está ajudando famílias, casas, cooperativas e empresas a irem para frente”.

A afirmação é de Dafila, empreendedora do ramo de reciclagem, que diretamente da Serra da Cantareira, na cidade de Mairiporã (SP), participou da edição de 21 de maio do programa ‘Ambiente por Inteiro’, apresentado por Paulo Jofre.

Dafila mora na Serra da Cantareira há 22 anos e se tornou recicladora em 2020. Muito antes, porém, ela já tinha o hábito fazer a separação de recicláveis em sua casa, mas com reciclava de tudo e em grande quantidade, a pessoa que antes recolhia estes itens disse que não conseguiria mais passar para retirá-los.

Diante disso, Dafila decidiu iniciar um projeto de reciclagem para engajar toda a comunidade do entorno. A ideia era que quem separasse itens recicláveis e a ela os entregasse receberia em troca cestas orgânicas. A iniciativa não teve a adesão imaginada, mas elas não desanimou. Tempos depois, se tornou uma recicladora de vidro e, mais adiante, também de óleo usado.  

“Sempre quis ajudar a Serra da Cantareira e sempre tive senso de justiça. Acredito que a reciclagem seja parte deste senso de justiça”, comentou.  

SUPERANDO DIFICULDADES

Dafila apontou que uma das dificuldades para manter um projeto de reciclagem longe dos grandes centros urbanos é a locomoção, seja por dentro da Serra para a retirada dos itens, seja para levá-los até as usinas de reciclagem, no caso dela, de Mairiporã até a cidade de Guarulhos (SP).  

“Mas a maior dificuldade, certamente, é de conscientizar as pessoas que elas tem de participar, de reciclar, que elas precisam separar o lixo reciclável, separar o orgânico do não orgânico, separar o vidro do papel, o plástico do alumínio. O outro problema é que nem sempre o item reciclável está limpo, e isso acaba contaminando os outros itens, e há até quem coloque lixo junto com o material reciclável”, recordou.

A viabilidade financeira do projeto é outro desafio. Dafila comentou que as empresas de reciclagem pagam pelo quilo do vidro algo próximo a R$ 0,30, de modo que quem opera diretamente neste processo com o reciclável têm pouco lucro, enquanto há grande faturamento das empresas de reciclagem.

Paulo Jofre completou destacando que este ramo, de fato, é rentável para tais empresas, a ponto de as dez maiores recicladoras do Brasil estarem sendo procuradas para parcerias e estudos por parte de investidores árabes.

“Os recicladores são empresários potenciais. Então, quando você oferecer algum material a estes empresários, como a Dafila, tenha um pouco de consideração, acomode a doação em recipientes apropriados para que possam ser levados com segurança”, pediu Jofre.

RECICLAGEM DE ÓLEO

Dafila também deu detalhes de como tem empreendido na reciclagem de óleo, cujo processo, segundo ela, é bem menos difícil do que o do vidro – transportar e coletar o óleo é mais seguro e menos arriscado ao reciclador –, mais rentável e permitiu que ela ampliasse o leque de parcerias com comércios, condomínios e outros recicladores.

A empreendedora explicou que alguns locais, ela deixa grandes bombonas (tambores feitos de plástico, usados geralmente para armazenar líquidos) para que as pessoas possam descartar o seu óleo usado e depois ela faz a retirada quando já estiverem cheias. A periodicidade deste recolhimento varia conforme cada local e a velocidade com que se preenche a bombona: uma vez por semana, a cada 15 dias ou uma vez por mês.

“A gente coleta o óleo, leva para a nossa empresa e faz uma filtragem antes de ser revendido”, detalhou.

“Infelizmente, muitas pessoas não têm noção e jogam o óleo usado no ralo. E isso é prejudicial para a própria casa da pessoa, pois este óleo fica encrostado e entope a fossa, sem contar do quanto polui o meio ambiente: contamina os rios e o lençol freático”, lamentou Dafila.

Arquivo Instagram – ofolhasuperheroi

O QUE RECICLAR E O QUE DESCARTAR

Dafila deu exemplos de materiais que podem ser facilmente separados pelas pessoas e destinados à reciclagem: garrafas PET; tampinhas plásticas (polipropileno); metal (principalmente as latinhas) – as quais tem alto valor pelo quilo vendido; e papelão (mais que exige um cuidado extra de que não molhe).

Ela pediu que não se coloque entre os itens recicláveis a embalagem de pizza: “Quando a pizza tem contato com a caixa, ela contamina, suja, essa embalagem, que se tiver contato com outros materiais irá contaminá-los também”.

Outra curiosidade é que a caixinha de leite não é 100% reciclável, pois é preciso fracionar os itens de sua composição para serem reciclados, e nem sempre se encontra quem seja especializado em fazer isso.

Também a reciclagem de isopor ainda não é viável no Brasil, tanto que no estado de São Paulo apenas dois locais recebem este item. “Via de regra, quando isso chega em uma recicladora ou cooperativa acaba indo para o lixo, pois essa empresa não tem para onde enviar este material”, explicou Dafila. Jofre complementou que o isopor é um material altamente poluente, pois tem muita química agregada em sua composição.

Por outro lado, lembrou Jofre, equipamentos eletrônicos antigos têm alto potencial de reciclagem, por meio da retirada de suas peças que podem ser usadas para outros fins e terem extraídos seus componentes originais. Uma placa de computador, por exemplo, é repleta de metais valiosos, como o ouro.

VALORIZAÇÃO

“O reciclado não é lixo, é ouro, com capacidade de se transformar por várias vezes em coisas que a gente nem imagina, e ainda tem esse poder de ajudar muitas famílias”, ressaltou Dafila.

Paulo Jofre enalteceu o trabalho realizado por ela e por todos recicladores, especialmente em um contexto no qual as cidades nem sempre têm eficiência nos sistemas de coleta de lixo e de resíduos que podem ser reciclados.

Por fim, o apresentador do convidou a todos para a exposição do maior gibi do mundo, “O Folha – Super-herói”, de sua autoria, que começou no dia 3 e prossegue até o sábado, 7, no Parque Estadual do Juquery (Rua Miguel Segundo Lerussi, s/n, na cidade de Franco da Rocha).  

Estudantes na exposição (clique na imagem e veja o vídeo)

O programa ‘Ambiente por Inteiro’ vai ao ar na rádio comunitária Cantareira FM, às quartas-feiras, das 12h05 às 12h30, com reprise aos sábados, às 7h. Abaixo, assista a live da edição de 21 de maio.