Programa Sintonia Cultural abre espaço para os ‘Olhares de Sol’
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“Poetisa, sonhadora e uma guerreira”. É assim que Sônia Regina, mulher negra, mãe e moradora da periferia da zona Noroeste de São Paulo, se define.
Na maior parte da vida, Sol Santos, como é mais conhecida, trabalhou como empregada doméstica. “Tenho muito orgulho, pois foi como doméstica que conseguir manter a minha estabilidade”. Ela se alfabetizou por meio do programa de Alfabetização de Jovens e Adultos (EJA) e adquiriu o hábito de fazer anotações a mão de fatos do seu cotidiano e de coisas que observa.
Quando era a hora de “curtir” aposentadoria, Sol Santos, assim como boa parte dos brasileiros, se viu obrigada conviver com as restrições da pandemia de COVID-19, entre 2020 e 2022. Descobriu-se, então, uma poetisa.
“Foi na pandemia que resolver fazer ‘Olhares de Sol’. Foi a maneira que achei de ir lá fora, de sair do confinamento, através dos meus escritos”, contou Sol em entrevista ao comunicador Adão Alves, no programa Sintonia Cultural da rádio Comunitária Cantareira FM, em 18 de janeiro.
‘OLHARES DE SOL’
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Pelos “Olhares de Sol” muitas coisas passam e a maioria delas vira poesia, que estão reunidas no livro que leva este nome, publicado pela editora Arte da Palavra.
Sol Santos fala, por exemplo, sobre a urgência do protagonismo feminino e o quanto isto é não só um bem para a mulher, mas para toda sociedade, como pode ser visto nos trechos a seguir do poema “Acorda, Alice”.
ACORDA, ALICE O sinal já foi tocado e as maravilhas necessitam do seu cuidado. Não permaneça como a Bela Adormecida Desperta! Até os duendes já estão a gritar ‘Abracadabra” Deixe o saber entrar… […] Até a dona baratinha resolveu não se casar, pois pensou primeiro em cuidar dos gatos, das onças pintadas e dos demais animais em extinção… […] Acorda, Alice, é hora de brilhar. Sempre teremos que acordar Alices, Marias. Nosso país de maravilhas só precisa de nós, Marias. |
As dores do coração de mãe da periferia também estão nos versos de Sol Santos:
RACISTA, NOS DEIXA EM PAZ As paisagens passam, A vida corre a cada instante Os cenários de tão belas imagens, sons e cores são profanados pelos guardiões imponentes das fardas. Arrancam, sem dó, a imagem mais bonita e preciosa que há na terra, os nossos guris, os nossos negros guris, e deixam rastro como furacão ou maremoto, nossos corações dilacerados, nossas entranhas de dor Que cenário triste! […] O tempo passando, e a certeza que não teremos um só minuto de paz. A tão sonhada, que na sua ideologia, é bandeira branca da paz. Mas não consegue proteger nem a bandeira, nem a cor, pois todos os dias a hasteamos com o sangue da nossa cor. |
Durante o programa, Adão Alves pediu que as pessoas sempre apoiem os artistas da periferia e motivou que nenhum talento fique escondido.
O livro “Olhares de Sol” está a venda pela editora Arte da Palavra, ao valor de R$ 35,00. Para adquiri-lo, é possível fazer contato com Sol Santos por meios das redes sociais (@solsantos3160). E quem compra o livro, ganha um mimo: um girassol.
Abaixo, assista a íntegra do Sintonia Cultural de 18 de janeiro. O programa é apresentado na Comunitária Cantareira FM, aos sábados, das 14h às 16h, por Adão Alves e Anílson Brito.