Apostando na rápida entrada no mercado de trabalho, estudantes optam por formação técnica em vez da graduação universitária
Por Gabriel Nassif
Com a alta nos custos de vida, a demora para recuperar o investimento em uma graduação e a crescente oferta de programas técnicos de qualidade, a formação técnica tornou-se uma alternativa atrativa, especialmente para quem busca qualificação rápida e prática.
De acordo com dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), a matrícula em cursos técnicos cresceu 18% em 2024 em relação ao ano anterior. O levantamento aponta que, entre os novos estudantes, 64% pertencem a famílias com renda de até dois salários mínimos. Além disso, áreas como tecnologia da informação, saúde e indústria despontam como as mais procuradas.
O técnico em Segurança do Trabalho, Samuel Trindade (21), viu no curso técnico uma oportunidade de entender melhor sobre sua profissão antes de decidir ingressar em uma universidade. “Eu percebi que como eu não tinha um rumo, não tinha uma base, eu tinha muito medo de entrar, então eu pensei que o técnico era uma boa oportunidade”, contou.
Essa mudança de perfil também é impulsionada pelas condições econômicas do Brasil. O acesso ao ensino superior, embora tenha avançado nas últimas décadas, ainda é desafiador para muitas famílias de baixa renda.
As mensalidades dos cursos particulares, aliadas ao custo de materiais e transporte, tornam-se barreiras quase intransponíveis. Já as instituições de ensino técnico, como as escolas do Senai e do Senac, oferecem mensalidades mais acessíveis e, muitas vezes, bolsas integrais para estudantes de baixa renda.
Samuel Trindade relata que seu objetivo sempre foi cursar uma universidade, porém escolheu o curso técnico por questões financeiras e pela duração do curso. “O curso técnico ele acaba tendo uma duração um pouco melhor do que a faculdade” comentou.
“Outro fator também que me fez optar pelo técnico foi pela quantidade de instituições que estavam oferecendo o curso por um valor acessível”, afirmou Samuel. Para especialistas, a tendência também reflete as demandas do mercado de trabalho, que tem valorizado profissionais capacitados em habilidades práticas e específicas.
“Eu não acredito que o mercado de trabalho tenha dado mais valor para os cursos técnicos do que os universitários, mas, em contra partida, também existem alguns técnicos que nos dão um conhecimento específico voltado para aquela área, o que acaba sendo vantajoso”, afirmou Samuel.
Ainda existe uma valorização cultural maior da graduação universitária em detrimento do ensino técnico, o que pode limitar o reconhecimento de profissionais técnicos no mercado. Além disso, nem todos os cursos técnicos são capazes de atender à alta demanda em determinadas regiões.
Mesmo assim, para muitos brasileiros, a formação técnica representa um caminho viável para alcançar estabilidade econômica e entrar no mercado de trabalho. Com o aumento da busca por esses cursos, a expectativa é que eles ganhem ainda mais relevância no cenário educacional do país, tornando-se uma ponte essencial entre a educação e o emprego.
O crescimento dessa tendência reforça a importância de políticas públicas que ampliem o acesso e a qualidade dos cursos técnicos, garantindo que eles continuem atendendo às necessidades de quem mais depende dessas oportunidades para transformar a própria realidade.