Por Maria Teresa Ferreira:
Estamos às voltas com os inúmeros pedidos de impeachment do presidente Bolsonaro, isso me fez pensar o quão pobres de representatividade positiva nós estamos, quão distante da realidade construímos nossa vida social e pior, quão desassociados dos problemas concretos do cotidiano nos movimentamos pelo mundo.
A votação para presidência da Câmara no próximo dia 04 de fevereiro, não só retarda o processo, como também não garante que ele seja concluído. O que me leva crer que a pressão popular ainda carece de mais força e mais organização para sairmos desse buraco sem fim que o país enfrenta.
Dentro desse contexto é fundamental analisar a conjuntura que estamos inseridos. O pensamento conservador avança a passos largos pelas alamedas políticas e ideológicas do país e do mundo. Atitudes e comportamentos que repelem a todo momento tudo aquilo que acreditamos melhor delinear a sociedade, como democracia e respeito, semeiam o ódio e a violência, impossibilitando o exercício da empatia.
O cenário mundial com a vitória de Biden nos trouxe para a outra ponta da corda, estamos começando a nos distanciar da segregação, do isolamento, das verdades absolutas cultivadas desde o início dos tempos, que sustenta o ideal do patriarcado e trabalha ideológica e cotidianamente para nos colocar a seu serviço, ou seja, cumprir um papel pré-estabelecido que obedeçam a signos pré-definidos de programação e atuação manipulados para seu controle.
Ao contrário do Brasil, que o tecido social vem sendo desfiado com avidez pelo pensamento reacionário ganhando cada vez mais espaço e força nas redes sociais e nas instituições que por definição deveriam defender um estado democrático de direito. O estado deixa de ter representatividade e passa a ser repudiado como ente responsável pela falência cidadã.
É dentro desse enredo opressor que nasce a dificuldade de construir uma representação positiva daquilo que podemos entender como nação, como povo, como um conjunto de cidadãos que marcham para o mesmo objetivo. A questão da representatividade está inserida no inconsciente coletivo que nos aprisiona em imagens distorcidas que se vinculam cada dia mais a violência e à corrupção.
A criação de elementos que nos levam a criar signos de representatividade também está associado à nossa identidade individual e coletiva, isso significa dizer que viver em um país onde as desigualdades sociais são elementos estruturantes da sociedade, não nos permitirá perceber o ambiente a partir da diversidade, o que nos torna reféns de um corpo social pautado pela normatividade.
A conjuntura nos nega ou dificulta a construção de uma representatividade positiva, que por sua vez não tem forças para se opor ao que está posto, perceba que intrinsecamente travamos uma luta inglória de desconstrução dos símbolos de opressão, ao mesmo tempo que aumenta o desejo de construir uma visão que consiga distinguir cada um de nós, como indivíduos capazes de contribuir de maneira diversa, para construção de uma representação que abarque de modo coerente a diversidade que nos compõem.
“Somos um país continental” como diz um grande amigo, dentro desse universo chamado Brasil a unilateralidade, ainda que detenha a força política e econômica e talvez por isso, ofusca o potencial criativo da nação que perde a oportunidade de se ver representada pela infinidade de individualidades que a compõem, é imprescindível que lutemos por uma conjuntura que nos seja favorável e não nos deixar mais aprisionar pelo poder hegemônico do capital financeiro e pelos conglomerados de comunicação.
Reconstruir o tecido social hoje é imperativo, é a lição de casa dos movimentos sociais organizados ou não e da sociedade civil, isso se, ainda cultivamos a esperança de nos constituirmos enquanto uma nação representada por pessoas singulares, cada um sendo um ser distinto colaborando de forma diversa com a pujança da nossa sociedade .